March 11, 2005

O ritual do cada vez menos habitual

Acompanhem-me numa pequena divagação...

Ultimamente, fala-se muito de como o hábito de seguir mensalmente uma série está a ser substituído, quando possível, por comprar as compilações periódicas que as editoras publicam. Sou um dos partidários desse formato, o chamado trade-paperback, e acho que as vantagens são claras: é mais prático de guardar, manusear, emprestar, não tem anúncios, fica bem na estante e resiste melhor à passagem do tempo.

De vez em quando, no entanto, ponho-me a ler séries mais antigas que comprei em formato "panfleto", quando os trade-paperbacks não eram habituais. Nas últimas semanas, por exemplo, peguei em SHADE THE CHANGING MAN, que começou em 1990 e durou setenta números. Sei que seria muito mais prático ler toda a série se tivesse um conjunto de trade-paperbacks que a compilassem, em vez dos setenta comics individuais que tenho guardados num caixote, em cima de uma estante. A verdade, no entanto, é que, para além dos méritos da história e arte, tem-me dado um prazer invulgar o próprio acto da releitura de SHADE THE CHANGING MAN.

Primeiro, cada comic é como que uma pequena viagem no tempo, cheio de pequenos pormenores a apreciar: há a secção de cartas dos leitores (desaparecida entretanto), os anúncios (cartazes de filmes já esquecidos, capas de albuns de grupos nunca mais escutados, jogos de consolas completamente desactualizados, etc), os editoriais e até a textura e cheiro do papel mais antigo. Depois, não sei bem explicar porquê, sinto que há algo de zen em ter de abrir o caixote onde se encontram os comics, tirar uns tantos cá para fora, lê-los um a um e, quando acabo, voltar ao caixote, guardar os lidos e tirar os seguintes.



Isto de reler séries antigas de comics que se tem em formato "panfleto" faz-me lembrar o acto de escutar música utilizando um disco de vinil e um gira-discos - são dois rituais para os quais é necessário alguma disposição e disponibilidade. Admito que não teria paciência para fazer isto sempre que quero ler qualquer comic, mas sinto que é algo que pode servir para tornar ainda maior o prazer de leitura. Que, às vezes, é tudo o que importa...

March 3, 2005

Young Avengers # 1

youngavengers1

Depois dos acontecimentos de Avengers Disassembled, um grupo de adolescentes super-heróis claramente inspirado nos Avengers originais tem vindo a aparecer nas noticias. Mas quem são estes jovens e que direito têm eles de se chamarem Young Avengers ?

Esta nova série marca a estreia de mais um argumentista que a Marvel foi buscar a outro tipo de Media. Desta vez trata-se de Allan Heinberg, argumentista de séries de TV como Sex and the City, Party of Five, e The O.C..

Engana-se quem possa pensar que esta série é a resposta da Marvel aos Teen Titans da DC. A principal diferença é que na DC, é normal os super-heróis terem sidekicks, e os Teen Titans originais foram formados simplesmente reunindo os jovens aliados desses heróis. Na Marvel, o conceito de sidekick não é comum, e colocando-nos no universo marvel em si, podemos perceber que a morte de Bucky, o sidekick do Captain America na altura da Segunda Guerra Mundial, é algo que desencorajou outros heróis a fazerem-se acompanhar por adolescentes na linha da
frente.

O complexo de Bucky, chamemos-lhe assim, é algo que parece querer ser retratado nesta nova série, que promete chocar e surpreender. A escrita de Heinberg é bastante dinamica, os diálogos são vivos e interessantes. No primeiro número, começamos a conhecer um pouco estes novos heróis, e inevitavelmente começamos a desenvolver teorias de quem serão. Eu tenho já uma para o Patriot, a personagem que faz lembrar o Captain America, mas não vou revelar nada para não estragar.

A arte está a cargo de Jim Cheung, alguém habituado a desenhar jovens. Os seus trabalhos mais conhecidos até ao momento são X-Force, para a Marvel, e Scion, para a Crossgen. O ambiente de Young Guns pareceu-me mais sombrio que o de X-Force, mas talvez isso se deva aos arte-finalistas e coloração do titulo. O estilo de Cheung é um estilo leve, com algumas influências orientais mais no que diz respeito aos rostos, pormenorizado qb em ambientes (sem exageros) e com bom storytelling.

Devo confessar que não estava a pensar acompanhar esta série, mas o primeiro número deixou-me com o mesmo nivel de satisfação, curiosidade e surpresa com que fiquei quando li o primeiro Thunderbolts, há uns anos atrás. Ou seja, nunca mais chega o #2 ?

March 2, 2005

Black Panther, o inicio

blackpanther1

Algures em Africa, há um reino que é invejado por todos os seus vizinhos, tal a sua riqueza e avanço tecnológico. Desde os primórdios dos tempos, é esse nivel superior de tecnologia que tem vindo a proteger esta nação de todos os seus inimigos. Quer seja recorrendo ao uso de máquinas de guerra incrivelmente avançadas para a época, quer pelo mitico uso de alguém que é um verdadeiro simbolo, lenda temida e totem desta comunidade, o Black Panther.

Parece ser esta a premissa com que começa a nova série da personagem Black Panther, da imprint Marvel Knights. A arte está bem entregue: John Romita Jr (Spider-Man, Hulk).
O argumento é de alguém novo nestas lides de escrever comics. Trata-se de Reginald Hudlin, um realizador de cinema de comédias como Boomerang (com Eddie Murphy e Halle Berry) e Serving Sara (com Matthew Perry e Elizabeth Hurley).

A dúvida estava lançada e parecia pertinente: conseguiria um realizador de comédia conferir a seriedade que uma personagem como o Black Panther merece ? Pelo primeiro número, estou em crer que sim. Ainda é cedo para avaliar a história, mas digo desde já que depois de ler o primeiro, fiquei com muita vontade de ler mais deste novo titulo.

February 24, 2005

Wondercon 2005

wondercon_hd

wonderconEste ano o período de convenções de comics nos Estados Unidos começou mais cedo, com a antecipação da WONDERCON de San Francisco de Maio para Fevereiro. O Moscone Convention Center recebeu mais uma vez esta convenção, na sexta-feira passada, e o evento prolongou-se pelo fim de semana, com um leque de artistas convidados muito interessante. Este ano estiveram presentes, entre outros, nomes como

Neal Adams - autêntica lenda viva dos comics, com trabalhos notáveis em Batman e X-Men dos anos 70
Sergio Aragones - artista criador do Groo
John Cassaday - artista de titulos como Planetary e Astonishing X-Men
Amanda Conner - artista de The Pro, que esteve em Portugal no primeiro BDForum
Arnold Drake - argumentista criador da original Doom Patrol
Adam Hughes - artista de titulos como Ghost, Gen 13 e Justice League
Jimmy Palmiotti - arte-finalista, argumentista, editor, o seu nome está associado a titulos como Daredevil, Punisher, 21 Down. Esteve também presente no primeiro BDForum, em Lisboa
Alex Ross - artista foto-realista de obras como Marvels e Kingdom Come
Jeff Smith - criador do Bone
Kevin Smith - realizador de cinema (Dogma, Clerks, Chasing Amy) com grande entusiasmo pelo mundo dos comics.Como argumentista mostrou o seu talento em Daredevil e Green Arrow. Parte silenciosa da dupla Jay & Silent Bob.
William Stout - artista mais ligado a underground comics, foi um dos primeiro norte americanos a colaborar com a revista Heavy Metal.
Joss Whedon - criador de Buffy, Vampire Slayer, actualmente Whedon é o argumentista de sucesso do titulo Astonishing X-Men

Aqui ficam algumas das notícias recolhidas na Wondercon :


COMIC NEWS

BatmanRobinAS - All-Star Batman and Robin, de Frank Miller e Jim Lee, começa em Julho. Em Setembro, começa All-Star Superman, de Grant Morrison e Frank Quitely

- Não foi revelado nada mais sobre a mini-serie DC Countdown. Contudo, o editor Dan Didio contou que a imagem que foi mostrada ao publico, em que o Batman tem em braços o cadáver de uma personagem não identificada, não é a capa final. Alex Ross, o autor da capa final, vai ter a vida dificil para tentar manter o segredo.

- Superman/Batman #19 traz de volta a Supergirl, com a história "Girl of Steel", que terá desenhos de Ian Churchill. Este arco servirá como introdução para a nova série Supergirl, com exactamente a mesma equipa criativa: Jeph Loeb e Ian Churchill.

WSTeam - J. Scott Campbell's (Danger Girl, Gen13) regressa em Junho com Wildsiderz, uma nova mini-serie de 6 numeros sobre 5 amigos que ganham superpoderes ligados ao reino animal.

- Com a saida de Ed Brubaker do titulo Gotham Central, e as vendas longe de serem altas, a DC não sabe bem o que irá acontecer a este titulo. Entretanto, foi apontado Kano (H.E.R.O.) como o novo artista regular da série, em substituição de Michael Lark.

- Ivan Reis será o novo desenhista de Teen Titans.

- Joss Whedon e John Cassaday anunciaram que vão manter-se no titulo Astonishing X-Men por mais um ano. Depois do número 12, haverá um breve intervalo, e depois seguem mais 12 números desta equipa criativa.

MOVIE NEWS

batbeginsChristian Bale, o actor principal de Batman Begins, apareceu de surpresa na Wondercon no Sabado, onde revelou que tinha contrato para um total de 3 filmes como Batman. O filme parece ser bem fiel à personagem, e Bale surpreendeu a audiência na sessão de perguntas e respostas. Alguém lhe perguntou se ele via Batman e Bruce Wayne como duas pessoas diferentes, ou como a mesma pessoa. O actor respondeu que para ele, Batman era a personagem real, e Bruce Wayne a máscara que Batman usa para funcionar numa sociedade normal.

Quem tambem esteve presente foi Julian McMahon, que interpreta o papel de Dr Doom no filme Fantastic Four, com estreia marcada para dia 8 de Julho. Preparem-se os fãs para uma versão diferente da sua origem, ou melhor, mais próxima da que se pode ver em Ultimate Fantastic Four. Para além disso, Victor Von Doom é aqui um obcecado milionário, e não um déspota monarca de um pequeno país europeu.

February 15, 2005

Blastmagazine

blastm0

Decorreu na sexta-feira passada, no café-teatro Santiago Alquimista, o lançamento do número 0 da Blastmagazine, uma revista em formato comic, a preto e branco, na qual participam vários jovens autores universitários.

Trata-se de um projecto inovador - é a primeira comics magazine de âmbito nacional, editada no contexto universitário - e conta com os apoios da Reitoria e da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, da Associação de Estudantes de Artes Plásticas e Design, da Escolar Editora e da Devir.

A organização da festa de lançamento esteve a cargo do Blast - Núcleo de BD e Animação da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e contou com a colaboração do Geraldes Lino, a quem tenho de agradecer o convite, e o facto de me ter dado a conhecer este projecto.

Vale a pena procurar por esta revista, que penso irá estar à venda nos sitios onde se costumam comprar comics (entre os quais Devir, BDMania, Kingpin-of-Comics). Em particular, fiquei impressionado com a qualidade do desenho de Ricardo Cabral, numa história futurista da qual espero ver uma continuação em breve. É também ele o autor da capa da revista, que podemos ver na imagem acima.

Segundo um artigo do Geraldes Lino que foi publicado num jornal universitário, o próximo número da Blastmagazine sairá em Junho, e a partir dessa altura passará a trimestral.

February 10, 2005

Blade Trinity

blade_poster2BLADE TRINITY

Está aí o terceiro e último filme do Blade, desta vez escrito e realizado por David S. Goyer, que também foi responsável pelo screenwriting dos dois anteriores filmes.

No papel principal voltamos a ter Wesley Snipes, que desta vez se vê acompanhado por Hannibal King (Ryan Reynolds) e Abigail Whistler (Jessica Biel), na sua guerra contra as criaturas da noite. Decididos a acabar com o Blade de uma vez por todas, os vampiros trazem de volta o primeiro de todos, Dracula (também chamado de Drake), ao mesmo tempo que manipulam os seus lacaios humanos de modo a fazer com que Blade seja perseguido pela lei. Blade irá encontrar-se mais só que nunca na sua luta...pelo menos até se aliar ao grupo Nightstalkers.

Curiosamente, nos comics Frank Drake era um descendente do Conde Dracula, e junto com o Blade e Hannibal King formavam o trio de caçadores de vampiros conhecidos como Nightstalkers. Este mesmo nome é usado no filme pelo grupo de caçadores do qual Hannibal e Abigail fazem parte.
tod053
No ultimo filme da trilogia Blade, é de tal modo marcante o impacto das novas personagens, principalmente da jovem caçadora interpretada por Jessica Biel, que já se fala de um spin-off deste filme, protagonizado pelos Nightstalkers. Mas isso dependerá do sucesso comercial de Blade Trinity.

Quanto a Wesley Snipes, terá sido a ultima vez que fez de Blade, uma vez que já disse querer parar de fazer de caçador de vampiros, para se dedicar a outra personagem dos comics, o Black Panther.

A história não é muito original (não tanto como a de Blade II), e vive muito do interesse que as novas personagens trazem. A realização deste filme também fica a perder para o segundo Blade. Nalguns momentos do filme fica-se com a idéia de que estamos a assistir apenas a um grande videomusical.

Mas acaba por ser um filme entretido, com o tipo de acção a que os filmes do Blade nos acostumaram. Grandes sequências de luta, com uma personagem que acaba cada movimento em pose para a fotografia, e algum humor. A jovem heroína também está muito bem, e acaba por conseguir tirar algum protagonismo ao Snipes.


February 3, 2005

Estreia de ELEKTRA, o filme

Estreou ontem nos ecrans portugueses mais um filme baseado numa personagem saída dos comics norte-americanos. Após a sua presença em DAREDEVIL (2003), Elektra tem agora direito a uma fita só para si. ELEKTRA (2005), do realizador Rob Bowman, apresenta-nos então a personagem da Marvel, tornada famosa nas mãos do lendário Frank Miller.



As notas de produção do filme dizem o seguinte: "Torturada pelo passado e perseguida pela sua misteriosa morte, Elektra ressuscita. Embora o seu "sensei" a tivesse treinado na rígida disciplina do "ninjutsu", ele não conseguirá domar a sua crescente fúria de vingar o brutal assassínio dos seus pais." Uma rebelde com causa, portanto...



Sem ter visto o filme e, a julgar pelo trailer, parece-me que ELEKTRA será, tal como DAREDEVIL, uma fita mediana. Nada de muito bom (como os excelentes BATMAN e SPIDERMAN 2), mas nada de muito mau - entertenimento simples e eficaz. Também me parece que o filme é claramente um veículo para promover a sua actriz principal, Jennifer Garner, o que nem me incomoda, pois ela até o merece (dentro do género de jovens actrizes-light ela é das melhorzinhas).

De qualquer maneira, são tudo especulações baseadas num trailer. Quem vir o filme que diga de sua justiça.

January 27, 2005

RFM - Passatempo Catwoman

cat

Por ocasião do lançamento em DVD do filme Catwoman, a RFM lançou um passatempo cujo prémio é uma semana em San Diego, California, com convites para a Comic-Con 2005, nada mais nada menos que a maior convenção de Comics da actualidade, a decorrer em Julho.

O passatempo consiste em enviar a resposta a 5 perguntas sobre o filme que serão feitas na rádio, durante a semana de 31 de Janeiro, e fazer uma pequena história de BD que inclua a Catwoman e RFM, no máximo de uma folha A4.

Para mais detalhes, consultem o site da RFM.


January 25, 2005

Stray Batman Bullets

Há um rumor no mundo dos comics que diz que todos os criadores têm uma história do Batman para contar. Mesmo aqueles que normalmente não escrevem tipicas histórias de super-heróis.

Pois bem, chegou a vez de David Lapham, o criador de Stray Bullets, nos mostrar o que tem para contar do Cavaleiro das Trevas.

detective801Em Detective Comics #801 começou uma história de 12 partes, intitulada “City of Crime”, onde Lapham nos conduzirá aos meandros do crime de Gotham City. Os desenhos são de Ramon Bachs (Batman: The 12-cent Adventure) e a arte-final de Nathan Massengill (Detective Comics).

Começamos por acompanhar Batman numa investigação de uma rede de tráfico de drogas, na qual parecem estar envolvidas várias pessoas de diferentes classes e profissões respeitadas da sociedade de Gotham. Mas o tráfico de droga parece ser apenas um dos petiscos desta rede criminosa, uma vez que aos poucos se vai percebendo que uma série de raptos podem estar também relacionados com esta organização.

O estilo urbano e sombrio da escrita de Lapham serve bem estas personagens, e acima de tudo Gotham City. A narrativa, sempre na primeira pessoa, é intimista e descritiva de pensamentos que nos ajudam a perceber quem são as personagens, e como elas vêem o Batman. Lapham escreve Batman como um mito urbano. A principal arma deste vigilante é o medo, e isso faz-se notar nas expressões atemorizadas quer dos criminosos quer das vítimas, que Bachs e Massengill retratam bem.

detective802No #802, que também já chegou cá, uma personagem importante aparece na história. Trata-se de Robin, o boy wonder, e é aqui que eu acho que Lapham falha um bocado. É que Tim Drake é retratado como um jovem aventureiro, algo despreocupado e brincalhão, caracteristicas que estão mais próximas dos outros dois jovens que já foram Robin, principalmente do Dick Grayson. O Tim Drake de outras histórias anteriores de Batman, e de Teen Titans, é um jovem mais parecido com o Batman, no sentido de que é mais sombrio, frio no relacionamento, de espirito critico e aguçado que fazem dele um detective quase tão bom como o Batman. Aqui Lapham mostra-nos um Robin mais relaxado e irrequieto.

Problemas no trabalho de pesquisa do background das personagens coadjuvantes ? Talvez. Seja como for, não é suficiente para estragar aquilo que me parece ser uma boa história do Cavaleiro das Trevas.

Na miriade de titulos Bat que saem por mês, nos próximos meses é com Detective Comics que conto para ter a minha dose mensal de Batman.

January 21, 2005

Novo espaço para loja Mongorhead

A Mongorhead, loja de comics e outros produtos relacionados, vai mudar de poiso. Saíndo do Centro Comercial Portugália, vai-se passar para a zona da Praça da Alegria, perto da saída de metro da Avenida. A re-inauguração está marcada para amanhã, dia 22 de Janeiro.

A nova morada, num espaço bastante maior, é então a seguinte: Rua da Alegria, nº 32/34. O site da loja é http://www.mongorhead.com.

January 5, 2005

Tudo estrelas - linha All-Star da DC

Uma das grandes apostas da DC para 2005 vai ser a sua nova linha All-Star. Segundo o que já li, esta linha concentrar-se-á em emparelhar os seus maiores ícones com os melhores criadores e apresentar histórias que não estejam presas à continuidade.

Os projectos All-Star iniciais já foram anunciados: ALL-STAR SUPERMAN, escrito por Grant Morrison e desenhado por Frank Quitely; ALL-STAR BATMAN & ROBIN, escrito por Frank Miller e desenhado por Jim Lee. Com nomes sonantes como estes, as expectativas são muitas e a comunidade online está já a fervilhar.

Por um lado temos Grant (THE INVISIBLES, JLA, THE FILTH, NEW X-MEN, WE3) Morrison e Frank (FLEX MENTALLO, JLA: EARTH 2, NEW X-MEN, WE3) Quitely, uma dupla de autores geniais. Já há algum tempo que o Morrison tinha confessado que desejava "pegar" no Superman e finalmente (e felizmente) o seu desejo foi realizado. O resultado será uma série de 12 números e ele já levantou um pouco o véu sobre o carrossel de idéias que podemos esperar:

The first issue 'Faster' starts with Superman attempting to rescue the first manned spaced mission to the sun! An overdose of solar radiation triggers a fatal chain reaction in his cell structure, P.R.O.J.E.C.T. specialists race to create a new Superman [...]. The Fortress appears in issue #2, stuffed with a ton of new toys and gets haunted by the bandaged ghost of the Unknown Superman of 4500 AD. The Kandorians finally get out of that bottle. Superman gets a new power. Clark Kent winds up sharing a prison cell with Lex Luthor in issue #5. The Bizarro Cube Earth invades our world in an epic 2-part adventure [...] and we're recasting the Bizarros as a frightening, unstoppable zombie-plague style menace. Bizarro Jor-El and the Bizarro JLA turn up in the second part of that story too. [...] We meet Earth's replacement Superman and Clark Kent takes on a new superhero identity...

Se com WE3, a ser publicado actualmente, Morrison e Quitely têm apresentado algum do seu melhor trabalho (ainda que ignorado por muitos), pode-se ter a certeza que ALL-STAR SUPERMAN vai servir para os tornar ainda mais consagrados... Esperemos apenas que a lentidão habitual de Quitely não arraste demais o projecto. Eu desculpo-o, já que os desenhos são do melhor que há, mas às vezes a espera desespera-me...

Depois, temos o emparelhamento de Frank (DAREDEVIL, RONIN, DARK KNIGHT RETURNS, SIN CITY, 300) Miller com Jim (X-MEN, BATMAN) Lee. O primeiro, um dos autores mais conceituados do mundo dos comics e uma verdadeira lenda da 9ª arte. O segundo, um dos desenhistas mais populares dos anos 90 e uma das faces do "estilo Image", e que após algum tempo centrado em trabalho editorial e de gestão, regressou em força nos últimos anos, provando que ainda é dos desenhistas que mais leitores consegue cativar. Para ALL-STAR BATMAN & ROBIN, Miller já confirmou que teremos o Robin versão Dick Grayson (em vez de um dos seus sucessores) e que a história girará em volta da relação Batman-Robin:

This is Dick Grayson's initiation and he's dealing with a very stern teacher. Batman is a hard teacher - unforgiving. Brutal. At the same time, Grayson is watching Batman come into his full power. Me and Jim Lee get to play with all of DC's toys. It'll be a romp. It'll be a lot of fun. I plan on raiding DC's treasury of characters. There won't be a Black Canary or a Wonder Woman unused.



Pessoalmente, já lá vai o tempo em que um projecto de Frank Miller me entusiasmava. Desde a obra-prima que foi 300 que ele não faz nada de excepcional, em termos de escrita ou de arte. O Jim Lee, por outro lado, nunca me entusiasmou, mas a verdade é que também não me incomoda. Não posso deixar, no entanto, de admitir que fazem uma dupla de peso e que vão certamente incendiar as tabelas de vendas. Mark Millar, da rival Marvel, já confessou: "I fear Miller/Lee on Batman".

Vamos a ver o que a Marvel terá para "combater" esta iniciativa da DC...

Will Eisner, RIP (1917-2005)

No dia 3 de Janeiro de 2005, aos 87 anos, Will Eisner faleceu após delicada cirurgia ao coração. Morre assim uma lenda dos comics norte-americanos, criador da personagem The Spirit e autor de váriadissimas Graphic Novels. Considerado por muitos como o grande mestre americano da arte sequencial, é no seu nome e obra que se inspiram os prémios mais consagrados da industria de comics, os Eisners.



December 31, 2004

Balanço de 2004 em The Beat

No blog sobre comics The Beat, Heidi MacDonald analisa com um refrescante bom-senso algumas das notícias e eventos que fizeram o ano de 2004. É uma revisão bastante completa de como decorreu o ano que hoje termina, do ponto de vista dos comics, e cuja leitura recomendo. Entre outras coisas, achei bastante interessante a seguinte chamada de atenção:

"Perhaps the problem with the LCS [local comics shop, as lojas de comics "de bairro"] is what I call the '10,000 dopes syndrome.'

I base the 10,000 dopes figure on the sales for POWERS when it switched from Image to Marvel. Same interior. Same creators. Same regular shipping schedule. But it sells 10,000 more of every issue.

Now you could say that Marvel has more reach in the market place. But in theory, Marvel and Image have exactly equal exposure to the LCS system. Certainly Brian Michael Bendis is a known and loved quantity.

So maybe retailers don't even look outside the little Marvel catalog that ships with Previews? Or they know that 10,000 readers think the name Marvel is so all powerful that it automatically makes a comic good? I don't know what it is, but whatever it is, it's bad news. Very bad news.
"

É realmente um sinal de que, quando um comic não vende, não basta apontar os dedos às editoras e aos consumidores. Parece que muitos dos donos das lojas de comics norte-americanas (felizmente acho que temos uma situação diferente aqui em Portugal) não fazem mais do que olhar para a editora de um comic quando chega a altura de o encomendar ou não...

December 20, 2004

Recomendações PREVIEWS - Dezembro

Algumas (ou deveria dizer muitas?) recomendações para encomendas deste mês da PREVIEWS (VOL. XIV #12), o catálogo da principal distribuidora de comics norte-americanos... Marquei a bold os meus destaques.

- SEVEN SOLDIERS #0 (DC)
Escrito por Grant Morrison, com arte de J.H. Williams. 48 pág., $2.95.
A nova halucinação saída da cabeça do argumentista escocês começa aqui. Seguem-se, se não me engano, 7 mini-séries dedicadas a 7 personagens semi-obscuros do universo DC, que (dizem eles) funcionarão independentes, mas juntas formarão uma saga com grandes reprecursões (ou não - ver os meus comentários acerca de crossovers). Cinismo à parte, estou curioso em ver o que sai daqui...

- SOLO #3 (DC)
Escrito e com arte de Paul Pope. 48 pág, $4.95.
O terceiro número desta série que entrega 48 páginas a um autor para ele fazer, mais ou menos, o que lhe apetece é dedicado a Paul Pope, um autor muito especial. Promete mitos gregos, Omac (one-man-army-corps), New York e Robin (Dick Grayson).

- SANCTUM TPB (DC)
Escrito por Xavier Dorison, com arte de Christopher Bec. 192 pág., $19.95.
Já tenho parte disto em edição francófona. É uma história bem envolvente de mistério e sobrenatural passada num submarino nuclear norte-americano que descobre um velho submarino russo perto gigantesco templo sub-aquático. Ecos de Lovecraft...

- IT’S A BIRD SC (DC)
Escrito por Steven T. Seagle, com arte de Teddy Kristiansen. 136 pág., $17.95.
A versão softcover da extremamente elogiada graphic-novel auto-biográfica sobre o processo de escrita do comic Superman pelo próprio autor Steven T. Seagle.

- LUCIFER: EXODUS TPB (DC)
Escrito por Mike Carey, com arte de Peter Gross e Ryan Kelly. 168 pág., $14.95.
Nova compilação da excelente série LUCIFER, reúnindo os números 42-44 e 46-49. Quem já conhece, não deverá deixar passar. Os outros comecem pelo primeiro volume desta saga de proporções bíblicas, sobre o plano de Lucifer para criar um universo livre da influência de Deus.

- RUNAWAYS #1 (Marvel)
Escrito por Brian K. Vaughan, com arte de Adrian Alphona. 32 pág., $2.99.
Relançamento da série de culto RUNAWAYS. Ainda estou para comprar o primeiro TPB, mas nunca li uma palavra má sobre esta série sobre um grupo de filhos de super-vilões em fuga dos seus pais...

- SHANNA, THE SHE-DEVIL #1 (Marvel)
Escrito e com arte de Frank Cho. 32 pág., $3.50.
A arte pneumática que já foi colocada online de SHANNA estava espectacular em temos de traço e detalhes (não só anatómicos). Do argumento não espero grandes sofisticações, no entanto...

- MARVEL WEDDINGS TPB (Marvel)
Escrito por vários (Stan Lee, Jim Shooter, David Michelinie, Roy Thomas, John Byrne, Steve Englehart, etc), com arte de vários (Jack Kirby, Andy Kubert, John Buscema, John Byrne, Sal Buscema, etc). 200 pág., $19.99.
Uma compilação curiosa, que reune vários casamentos do universo Marvel. Passam por aqui o Spiderman, os Fantastic Four, o Hulk, os X-Men e talvez alguém mais. De propósito para o Dia de S.Valentim (esse dia tão nobre e tradicional, ou não...) em Fevereiro.

- DAMN NATION #1 (Dark Horse)
Escrito por Andrew Cosby, com arte J. Alexander. 32 pág., $2.99.
O início de uma mini-série de 3 números com um ponto de partida promissor: "The United States' borders and ports are locked down against a terrible threat. However, the barbed wire and infantries are not positioned to keep an enemy out, but to protect the rest of the world from a vampire plague that’s spread over every inch of the country.."

- LAST TRAIN TO DEADSVILLE: A CAL MCDONALD MYSTERY TPB (Dark Horse)
Escrito por Steve Niles, com arte de Kelley Jones. 144 pág., $14.95.
Agora é que é - o mês passado enganei-me e recomendei isto, quando ainda não estava disponível. Como disse, após "ler a primeira e divertidíssima mini-série dedicada a Cal McDonald, investigador do sobrenatural, fiquei convencido. Vou encomendar esta nova compilação, agora com a arte única de Kelley Jones (excelente artista para ambientes macabros), de quem já tinha saudades...."

- LITTLE STAR #1 (Oni Press Inc.)
Escrito e com arte de Andi Watson. 32 pág., $2.99, preto e branco.
O começo da nova série (bi-mensal) do genial Andi (BREAKFAST AFTER NOON, DUMPED, LOVE FIGHTS) Watson, desta vez falando sobre o que é tornar-se um pai. Vou esperar pelo eventual TPB, mas já sei que vai ser uma espera dolorosa...

- SCOTT PILGRIM VS THE WORLD VOLUME 2 GN (Oni Press Inc.)
Escrito e com arte de Bryan Lee O’Malley. 200 pág., $14.95, preto e branco.
O segundo volume da hilariante, tocante e divertidíssima história de Scott Pilgrim. Música, namoradas adolescentes, miúdas sobre patins, ex-namorados vingativos e muito, muito humor. Se for igual ao anterior SCOTT PILGRIM'S PRECIOUS LITTLE LIFE, não será abaixo do excelente. E façam o favor de comprar/encomendar também LOST AT SEA, a graphic-novel que me apresentou o Bryan Lee O’Malley. Este gajo vai longe! Preview aqui.

- THE ATHEIST #1 (Image)
Escrito por Phil Hester, com arte de John Mccrea. 32 pág., $3.50, preto e branco.
O começo de uma nova série bi-mensal protagonizada por Antoine Sharpe, um investigador do sobrenatural. Nada de original, mas Phil Hester (mais conhecido pelos seus desenhos, mas um argumentista bem competente) e John Mccrea são dois nomes que não costumam decepcionar. A investigar, depois de ler o artigo aqui...

- SCURVY DOGS VOLUME 1: RAGS TO RICHES TP (AIT/PlanetLAR)
Escrito por Andrew Boyd, com arte de Ryan Yount. 160 pág., $12.95, preto e branco.
Só ouvi dizer maravilhas desta série cómica sobre um grupo de piratas e as suas desventuras a tentar viver uma vida "normal". Esta compilação reúne todos os 5 números da série.

- STRANGE DAY (Alternative Comics)
Escrito por Damon Hurd, com arte de Tatiana Gill. 48 pág., $3.95, preto e branco.
Esta mini-graphic-novel fala de dois fãs dos The Cure, de faltar às aulas e de alienação. Merece chamada de atenção por ser escrita pelo criador de UNCLE JEFF, uma das histórias mais tocantes que já li em banda-desenhada.

- OWLY: JUST A LITTLE BLUE TP (Top Shelf Productions)
Escrito e com arte de Andy Runton. 112 pág., $10, preto e branco.
Segundo volume da série Owly. Já tenho ouvido falar muito bem desta série sem palavras, para todas (mesmo todas) as idades.

E pronto, é tudo. Aceitam-se comentários e/ou outras recomendações.

December 17, 2004

Heróis do Século XXI


THE ULTIMATES 2 #1
Argumento de Mark Millar
Arte de Bryan Hitch
Editado pela Marvel

É a muito aguardada sequela do sucesso retumbante que foi o primeiro volume de “The Ultimates”, a série mais entusiasmante e irreverente que a Marvel lançou nos últimos anos. Mark Millar e Bryan Hitch voltam a pegar nas versões ultimate das personagens clássicas de Lee, Kirby & Companhia para mais uma viagem de doze números na montanha-russa.

Destaco primeiro a arte de Bryan Hitch, cada vez melhor, e já se espera pelo dia em que se diga que o Alan Davis quer ser o Bryan Hitch quando for grande. Dá-me ideia que Hitch tem uma capacidade maior para criar uma página mais estética, um bocadinho além da competentíssima storytelling de super-heróis de Davis. Talvez o argumento puxe por essas qualidade dele, lembro-me que os seus números em JLA não eram tão interessantes. A cena inicial deste número está excelente, é o momento de acção a fazer lembrar a série anterior que, diga-se de passagem, é capaz de ser a única base de comparação válida para a arte actual de Hitch, e mesmo para a série em si. As cenas na cela de Banner mostram bem o puro design de Hitch, e as panorâmicas sobre Iskellion são sempre de grande espectáculo. Já na capa, há um esforço em mostrar o "group shot" sem ser de uma forma estafada de "photo-op" demasiado óbvia de que os comics de super-grupos costumam abusar.

Sobre a escrita de Millar, pode-se dizer que nem sempre é tão regular quanto a sua capacidade de criar expectativa sobre os seus projectos, e o primeiro volume da série será muito difícil de superar. Tentar encontrar enredos que nos façam esquecer a destruição em massa, as invasões de extra-terrestres mesmo feios e as relações complicadas entre personagens, tudo coisas que já vimos, não será certamente fácil. Este primeiro número, não se pode dizer que seja um começo em grande escala, mas temos uma cena de abertura com um Captain America imparável no palco de uma das guerras bushianas. É o tipo de cena a que Millar já nos habituou, que são bem típicas dos super-heróis de tendência "século XXI", sacanas proactivos e a fazerem lembrar um Clint Eastwood dos filmes do Sergio Leone.

Mas para serem um Ultimate, a estas personagens não basta ser-se um duro e fazer boa figura nos suportes da cultura tablóide do glamour. Há que esconder muito bem os pés de barro com que Millar soube calçá-los na primeira série, e agora os dedões já começam a espreitar por debaixo do manto de respeitabilidade do grupo. Uma coisa muito bem conseguida na série anterior foi a forma como Millar torna os leitores cúmplices dos Ultimates, especialmente na questão Hulk, e nos mostra as personagens como sendo seres humanos normais, capazes dos mesmos pensamentos mesquinhos que nos envergonhamos de ter na nossa vida real. Temos então super-heróis vaidosos, egocêntricos, ligeiramente desequilibrados psicologicamente, que fazem coisas que não vêm nos regulamentos e que conseguem safar-se à responsabilidade graças ao uso experiente do departamento de relações públicas. Por tudo isto, é de esperar que venhamos assistir nos números seguintes à queda em desgraça das super-celebridades, para diversão daqueles que as elevaram a esse estatuto. No caso de alguns, não se pode dizer que não mereçam.

Millar começa por atirar-lhes com a geopolítica à cara. Como resultado de acções mal justificadas bem para lá da jurisdição dos Ultimates, o auto-proclamado Deus do Trovão demite-se da equipa, alegando diferenças irreconciliáveis de agendas políticas. Thor prefere a companhia de um selectivamente visível Vollstagg, o Volumoso, que desce a um típico diner nova-iorquino para matar saudades da gastronomia mortal e deixar o aviso de que Loki voltou às suas travessuras habituais. Este primeiro número serve fundamentalmente de prólogo, em que os nomes do meio-irmão de Thor e do robot Ultron são atirados ao ar, à laia de "coming atractions".

Entretanto, os Ultimates têm os seus próprios problemas: Desde a patente incapacidade do Captain America em apreciar o cinema actual, passando pela inusitada amizade e colaboração científica entre o espancador de mulheres Pym e o espancador de cidades Banner, até ao pesadelo de relações-públicas à espera de acontecer quando o terrível segredo que desesperadamente os Ultimates tentavam manter longe do conhecimento geral é finalmente exposto. Todos os sub-plots parecem lançados, e Millar até promete superar o que vimos em “The Ultimates”, não porque seja uma coisa fácil, mas porque roça mesmo o impossível.

Quote: “Well, that’s the thing about being a grown-up, Pietro. Sometimes you have to break these little promises.”

Hit & Run Reviews: The New Avengers #1


THE NEW AVENGERS #1
Argumento de Brian Michael Bendis
Arte de David Finch
Editado pela Marvel

Depois da controvérsia gerada por “Avengers: Chaos”, em que a mesma equipa criativa empreendeu um verdadeiro “shock to the system” à série, exterminando algumas personagens clássicas e outras mais figurativas, o prometido novo elenco dos heróis mais poderosos da Terra surge agora em “The New Avengers”. E vem cheio de caras conhecidas. É a Marvel a JLAficar o supergrupo mais abrangente do seu catálogo editorial, escandalizando o fanboy incauto por esse mundo fora. Como membro confesso dessa espécie já há vinte anos, não vejo qual é o mal.

A história está boa e promete mais, mesmo que tenha já sido feita antes numa graphic novel que poucos se lembrarão. A arte de Finch parece adaptar-se cada vez mais ao estilo de Bendis que, como argumentista, tem o seu maior trunfo na reconhecida capacidade de escrever os melhores diálogos do ramo, sugerindo vida e personalidade às personagens que lhe vão parar às mãos. Desta vez, o vilão de serviço parece ser, já que a nostalgia assim o exigiu, o Electro. Max Dillon, aparentemente acabadinho de chegar de umas aulas de afirmação pessoal, provoca uma fuga em massa em the Raft, a ilha-prisão de máxima segurança para super-criminosos.

Por acaso do destino, o momento escolhido por Electro coincide com uma visita do advogado Matt Murdock (que alegadamente é o super-herói Daredevil), que por motivos profissionais se fazia acompanhar pelo guarda-costas Luke Cage e aproveitava uma visita guiada às entranhas das instalações, tendo como guia a outrora Spider-Woman original, Jessica Drew. E, quando as luzes se apagam, acorrem ainda à ilha outras duas personagens do universo Marvel com maior destaque: o tagarela Spider-Man e o sisudo Captain America. Parece que o grupo já está todo reunido. Ou será que ainda falta alguém? Snikt!

Quote: “I have a little voice that is telling me to run screaming from here.”

Hit & Run Reviews: Iron Man #1


IRON MAN #1
Argumento de Warren Ellis
Arte de Adi Granov
Editado pela Marvel

Warren Ellis resolve então começar por recapitular uma vez mais a origem de Tony Stark e da sua armadura Iron Man. Como pretexto, Tony aceita ser entrevistado pelo documentarista John Pillinger que o confronta de forma aberta com o historial das Indústrias Stark no raramente humanitário mas sempre lucrativo negócio do armamento, fornecendo guerras onde quer que elas precisem de minas e bombas e coisas que matem as criancinhas e as mulheres e os idosos para a fotografia.

Ellis, futurista convicto que ele é, foi o argumentista escolhido pela Casa das Ideias para o reboot do vingador dourado. Tony Stark, visto por Ellis, recicla as suas características mais sofisticadas e adopta uma filosofia mais seca e realista em relação aos seus negócios. Ganha também uma nova secretária que, por agora, não passa de uma voz petulante no auricular, e inevitavelmente opta por um novo design para a sua armadura de Iron Man, que ele continua a utilizar para fins levemente zen.

Mas a história deste primeiro número passa também pela empresa Futurepharm, de onde uma misteriosa fórmula experimental chamada Extremis foi vendida clandestinamente a um grupo anarquista por um funcionário com tendências suicidas e sintomas clássicos de auto-comiseração galopante. Tony recebe um pedido de ajuda de Maya Hansen, designer médica às aranhas da Futurepharm, em nome da amizade recente entre eles e duma promessa feita em cima de umas poucas bebidas.

Na arte, temos Adi Granov, um puto novo, adepto das novas tecnologias que nos trouxeram a arte de formato digital. Poderá ser menos dinâmica, dirão uns, mais indicada para pin-ups e capas, mas agrada-me o resultado.

O casting da equipa criativa parece assim um pouco óbvio, e os temas já haviam sido abordados na década de oitenta, nos tempos do argumentista David Michelinie. Mas os diálogos sempre snappy de Ellis, a arte refrescante de Granov e um cliffhanger arrepiante acabam por tornar este primeiro número bem mais interessante que o Captain America #1.

Quote: “Hard to believe I used to be able to fit this into a suitcase.”

Hit & Run Reviews: Captain America #1


CAPTAIN AMERICA #1
Argumento de Ed Brubaker
Arte de Steve Epting
Editado pela Marvel.

O re-lançamento de uma das personagens mais emblemáticas do universo Marvel foi precedido de uma boa dose de hype, como parece ser cada vez mais a receita para estas situações. Ao leitor foram feitas promessas de assombro, à cobrança da equipa criativa composta pelo argumentista Ed Brubaker e pelo desenhador Steve Epting.

A magnífica arte de Epting cumpre tudo o que a propaganda anunciava, e está bem mais suave do que há uns anos, durante a sua run em “Avengers”. Mas o argumento deste #1 não traz assim muito de novo, e quase nada de assombro.

Steve Rogers, no rescaldo do evento “Chaos", passa por algumas dificuldades em lidar com a morte de alguns dos companheiros nos Avengers, e isso reflecte-se no seu modus operandi como Captain America. De tal modo, que Sharon Carter é despachada para lhe oferecer um ombro onde desabafar e conselhos que se possam seguir à letra.

Entretanto, e pelas costas, a velha pedra no sapato da sentinela da liberdade, o Red Skull, prepara-se para iniciar mais um esquema megalomaníaco onde a morte e a destruição são sempre cabeças de cartaz. Infelizmente para todas as partes envolvidas, a entrada em cena de uma figura potencialmente muito mais perigosa que a do mero fascista cadavérico do tempo da minha avó, vem baralhar as previsões mais cínicas e, esperemos, dar o mote para o tal assombro que nos prometeram.

Quote: “You’re at your lowest point, and that’s why you’ll never see me coming this time.”

December 11, 2004

Comics Hunter: Mission Stockholm

Howdy!

Depois de algum tempo ausente, eis-me de volta ao Blog com algo que já há algum tempo me tinha lembrado de fazer: um pequeno guia de lojas de Comics dentro e fora de Portugal, rubrica à qual dei o nome de Comics Hunter.

Uma das coisas que gosto de fazer quando estou fora de casa é procurar lojas de Comics. Em alguns paises é relativamente fácil encontrá-las, mas noutros é praticamente impossível, o que por vezes torna a "caçada" mais interessante.

Hoje trago-vos duas sugestões de lojas que encontrei em Estocolmo, Suécia.

À semelhança de Portugal, é possível encontrar BD de Super-Heróis editada na lingua local, em qualquer quiosque de jornais. Quando lá estive, há um par de semanas atrás, vi nas bancas o "Riot at Xavier's" de X-Men, e o Spider-man de Straczinsky, ainda desenhado pelo John Romita Jr. Mas e o tradicional Comic Book de 32 páginas, importado dos States ? Bem, isso foi muito mais dificil, e tive de procurar pelas lojas da especialidade.

Daquelas em que estive, destaco estas duas :

SCIENCE FICTION BOKHANDELN
Vasterlanggatan 48


Trata-se de uma loja enorme dedicada à Ficção Científica. Tem de tudo, desde DVDs a livros, jogos de tabuleiro e RPGs. No que diz respeito a BD, a maior parte do material é Manga' japonês. Comics americanos, apenas se encontram no formato Trade Paper Back, e existe também uma secção dedicada a albuns de BD europeus, principalmente franco-belgas. A selecção de filmes em DVD é muito boa e variada. De Anime existem vários titulos disponíveis, muitos deles importados dos Estados Unidos, e a metade do preço que se conseguem nas lojas de cá. Também têm uma boa colecção de DVDs de Series de TV, como o Mutant X, Babylon V, e por aí fora.
No que diz respeito a jogos, pode ver-se muita coisa de Lord of the Rings e Warhammer.

Aliás, em Estocolmo é rara a loja de jogos e ou brinquedos que não vende Warhammer. Já Heroclix ou Mage Knight, não encontrei em lado nenhum.

COMICS HEAVEN
St. Nygatan 23


Esta loja tem um nome um bocado enganador. É que à semelhança de todas as ditas lojas de Comics que vi em Estocolmo (esta foi a terceira), é muito dificil encontrar Comics recentes vindos dos Estados Unidos. A primeira coisa que salta à vista quando se entra numa loja destas é a desarrumação. Existem caixas por todo o lado na loja, com edições antigas de comics publicados na Suécia, comics importados, action figures espalhados por todo o lado, enfim, uma grande confusão. As lojas de Comics de Estocolmo são aquilo que cá em Portugal conhecemos como alfarrabistas. Têm muita coisa, mas a maior parte parece ser em segunda mão, e apenas com uma grande dose de paciência se consegue encontrar alguma coisa.

Ambas as lojas ficam situadas no centro histórico da cidade, Gamla Stan, e a uns 200 metros uma da outra, em ruas paralelas entre si. As bolas vermelhas indicam a localização das lojas, sendo a bola maior relativa à loja maior, a SFB.
Acaba por ser o melhor sitio para arranjar material made in USA mais recente, mas apenas em TPB. E mesmo em frente da loja há uma Coffee Shop muito agradável, onde se pode fugir do frio e folhear os livros acabados de comprar :-)


November 24, 2004

Os Homens do Presidente da Câmara


EX MACHINA: State of Emergency
Escrito por Brian K. Vaughan
Desenhado por Tony Harris
Editado pela Wildstorm

Os criadores Brian K. Vaughan (Runaways) e Tony Harris (Obergeist) trazem-nos agora “Ex Machina”, a série creator-owned que começou a sair há uns meses pela Wildstorm e que conseguiu alguma visibilidade na imprensa mainstream. Apesar de “Ex Machina” ter como protagonista uma personagem que facilmente se poderia catalogar de “super-herói”, é evidente o esforço dispendido para a tornar atractiva a um público menos conhecedor do meio da banda desenhada, e tentando agradar a uma faixa etária que já tenha deixado para trás o género mais tradicional e juvenil de se escrever histórias de super-heróis.

O jovem engenheiro civil da câmara de Nova Iorque, Mitchell Hundred, criara-se com as histórias dos super-heróis da DC na cabeça. Seria previsível que se pusesse a voar de um lado para o outro à maluca, tirando o máximo partido das novas habilidades obtidas após um estranho incidente junto a um pilar da ponte de Brooklyn. O que quer que fosse aquele estranho gadget esverdeado e brilhante que ele encontrara a flutuar nas águas do Hudson, explodiu quando ele lhe tocou e, além da bela da cicatriz no rosto, Mitchell ficou com a capacidade de “falar” com todo o tipo de maquinaria, convencendo-as com falinhas mansas a fazerem o que ele quer.

Incentivado pelo amigo russo expatriado Kremlin, e por Bradbury, o tipo que o levou a dar um passeio fluvial naquela fatídica noite, Mitchell lá acede à ideologia juvenil fundamentada pela lógica dos comic books com os quais, muito provavelmente, todos os três haviam aprendido a ler e decide-se a ir lá para fora combater o crime, e mais não sei o quê. Dando bom uso aos inventos que lhe surgem durante os sonhos, Mitchell torna-se no super-herói “The Great Machine”, é prontamente perseguido pela imprensa e pela comissária de polícia, desiste contra a vontade dos amigos e resolve antes concorrer à câmara municipal da grande cidade que é Nova Iorque. E, com a ajuda de um democrata rasta, ganha as eleições como candidato independente.

“Ex Machina” começa mais ou menos nesse ponto, mostrando-nos episódios do passado de Mitchell à laia de pistas para o que se está a passar no tempo presente. O agora Mayor Mitchell Hundred tem de se desdobrar para resolver os problemas de gestão de uma cidade inteira, proibido que está de recorrer às suas capacidades de engenharia telepática. Assim que toma posse, o Mayor tem de se haver com políticos chantagistas, jornalistas curiosos, artistas plásticas com um sentido de humor retorcido, e o eventual assassinato em série que vai fazendo miséria nas fileiras dos condutores de limpa-neves durante o pior nevão da história.

Brian K.Vaughan experimenta calçar os sapatos apertados de Aaron Sorkin injectando os meandros da política de bastidores no género de super-heróis. O encosto à série de televisão “The West Wing” é óbvio, e não há nada de errado nisso. A ideia é boa, mas talvez o resultado final saia curto em relação ao objectivo proposto. As personagens estão lá, os diálogos quase que estão (Vaughan faz melhor em “Y- The Last Man”, por exemplo), os conflitos e problemas surgem em catadupa e variedade, de forma a dar alguma coisa a fazer a cada uma das personagens.

A arte de Tony Harris aparece mais solta em “Ex Machina”, se compararmos com o trabalho dele em “Starman”. Esta evolução agrada-me, especialmente no traço, porque Harris não perdeu o sentido estético que já fazia parte do seu portfolio e que o ajuda a ilustrar de forma cativante uma série que é fundamentalmente uma sucessão de cenas de diálogo umas atrás das outras.

Estes primeiros cinco números de “Ex Machina” acabam por ser algo parados, disparando referências ao que está por vir e ao que se passou antes, talvez a pôr a mesa para um “A Origem de…” ou “O Regresso do Terrível Fulano Que…”. Os assuntos políticos deverão continuar a ser a pedra de toque de “Ex Machina”, e esperemos no futuro poder acompanhar a evolução das personagens na órbita do protagonista Mitchell Hundred. “State of Emergency” não é um mau arranque, mas talvez tenha ficado um pouco atascado no hype inicial da série. Deseja-se as melhoras.

QUOTE “And here I thought cheese was your kryptonite… you lactose intolerant fuck.”