December 31, 2004

Balanço de 2004 em The Beat

No blog sobre comics The Beat, Heidi MacDonald analisa com um refrescante bom-senso algumas das notícias e eventos que fizeram o ano de 2004. É uma revisão bastante completa de como decorreu o ano que hoje termina, do ponto de vista dos comics, e cuja leitura recomendo. Entre outras coisas, achei bastante interessante a seguinte chamada de atenção:

"Perhaps the problem with the LCS [local comics shop, as lojas de comics "de bairro"] is what I call the '10,000 dopes syndrome.'

I base the 10,000 dopes figure on the sales for POWERS when it switched from Image to Marvel. Same interior. Same creators. Same regular shipping schedule. But it sells 10,000 more of every issue.

Now you could say that Marvel has more reach in the market place. But in theory, Marvel and Image have exactly equal exposure to the LCS system. Certainly Brian Michael Bendis is a known and loved quantity.

So maybe retailers don't even look outside the little Marvel catalog that ships with Previews? Or they know that 10,000 readers think the name Marvel is so all powerful that it automatically makes a comic good? I don't know what it is, but whatever it is, it's bad news. Very bad news.
"

É realmente um sinal de que, quando um comic não vende, não basta apontar os dedos às editoras e aos consumidores. Parece que muitos dos donos das lojas de comics norte-americanas (felizmente acho que temos uma situação diferente aqui em Portugal) não fazem mais do que olhar para a editora de um comic quando chega a altura de o encomendar ou não...

December 20, 2004

Recomendações PREVIEWS - Dezembro

Algumas (ou deveria dizer muitas?) recomendações para encomendas deste mês da PREVIEWS (VOL. XIV #12), o catálogo da principal distribuidora de comics norte-americanos... Marquei a bold os meus destaques.

- SEVEN SOLDIERS #0 (DC)
Escrito por Grant Morrison, com arte de J.H. Williams. 48 pág., $2.95.
A nova halucinação saída da cabeça do argumentista escocês começa aqui. Seguem-se, se não me engano, 7 mini-séries dedicadas a 7 personagens semi-obscuros do universo DC, que (dizem eles) funcionarão independentes, mas juntas formarão uma saga com grandes reprecursões (ou não - ver os meus comentários acerca de crossovers). Cinismo à parte, estou curioso em ver o que sai daqui...

- SOLO #3 (DC)
Escrito e com arte de Paul Pope. 48 pág, $4.95.
O terceiro número desta série que entrega 48 páginas a um autor para ele fazer, mais ou menos, o que lhe apetece é dedicado a Paul Pope, um autor muito especial. Promete mitos gregos, Omac (one-man-army-corps), New York e Robin (Dick Grayson).

- SANCTUM TPB (DC)
Escrito por Xavier Dorison, com arte de Christopher Bec. 192 pág., $19.95.
Já tenho parte disto em edição francófona. É uma história bem envolvente de mistério e sobrenatural passada num submarino nuclear norte-americano que descobre um velho submarino russo perto gigantesco templo sub-aquático. Ecos de Lovecraft...

- IT’S A BIRD SC (DC)
Escrito por Steven T. Seagle, com arte de Teddy Kristiansen. 136 pág., $17.95.
A versão softcover da extremamente elogiada graphic-novel auto-biográfica sobre o processo de escrita do comic Superman pelo próprio autor Steven T. Seagle.

- LUCIFER: EXODUS TPB (DC)
Escrito por Mike Carey, com arte de Peter Gross e Ryan Kelly. 168 pág., $14.95.
Nova compilação da excelente série LUCIFER, reúnindo os números 42-44 e 46-49. Quem já conhece, não deverá deixar passar. Os outros comecem pelo primeiro volume desta saga de proporções bíblicas, sobre o plano de Lucifer para criar um universo livre da influência de Deus.

- RUNAWAYS #1 (Marvel)
Escrito por Brian K. Vaughan, com arte de Adrian Alphona. 32 pág., $2.99.
Relançamento da série de culto RUNAWAYS. Ainda estou para comprar o primeiro TPB, mas nunca li uma palavra má sobre esta série sobre um grupo de filhos de super-vilões em fuga dos seus pais...

- SHANNA, THE SHE-DEVIL #1 (Marvel)
Escrito e com arte de Frank Cho. 32 pág., $3.50.
A arte pneumática que já foi colocada online de SHANNA estava espectacular em temos de traço e detalhes (não só anatómicos). Do argumento não espero grandes sofisticações, no entanto...

- MARVEL WEDDINGS TPB (Marvel)
Escrito por vários (Stan Lee, Jim Shooter, David Michelinie, Roy Thomas, John Byrne, Steve Englehart, etc), com arte de vários (Jack Kirby, Andy Kubert, John Buscema, John Byrne, Sal Buscema, etc). 200 pág., $19.99.
Uma compilação curiosa, que reune vários casamentos do universo Marvel. Passam por aqui o Spiderman, os Fantastic Four, o Hulk, os X-Men e talvez alguém mais. De propósito para o Dia de S.Valentim (esse dia tão nobre e tradicional, ou não...) em Fevereiro.

- DAMN NATION #1 (Dark Horse)
Escrito por Andrew Cosby, com arte J. Alexander. 32 pág., $2.99.
O início de uma mini-série de 3 números com um ponto de partida promissor: "The United States' borders and ports are locked down against a terrible threat. However, the barbed wire and infantries are not positioned to keep an enemy out, but to protect the rest of the world from a vampire plague that’s spread over every inch of the country.."

- LAST TRAIN TO DEADSVILLE: A CAL MCDONALD MYSTERY TPB (Dark Horse)
Escrito por Steve Niles, com arte de Kelley Jones. 144 pág., $14.95.
Agora é que é - o mês passado enganei-me e recomendei isto, quando ainda não estava disponível. Como disse, após "ler a primeira e divertidíssima mini-série dedicada a Cal McDonald, investigador do sobrenatural, fiquei convencido. Vou encomendar esta nova compilação, agora com a arte única de Kelley Jones (excelente artista para ambientes macabros), de quem já tinha saudades...."

- LITTLE STAR #1 (Oni Press Inc.)
Escrito e com arte de Andi Watson. 32 pág., $2.99, preto e branco.
O começo da nova série (bi-mensal) do genial Andi (BREAKFAST AFTER NOON, DUMPED, LOVE FIGHTS) Watson, desta vez falando sobre o que é tornar-se um pai. Vou esperar pelo eventual TPB, mas já sei que vai ser uma espera dolorosa...

- SCOTT PILGRIM VS THE WORLD VOLUME 2 GN (Oni Press Inc.)
Escrito e com arte de Bryan Lee O’Malley. 200 pág., $14.95, preto e branco.
O segundo volume da hilariante, tocante e divertidíssima história de Scott Pilgrim. Música, namoradas adolescentes, miúdas sobre patins, ex-namorados vingativos e muito, muito humor. Se for igual ao anterior SCOTT PILGRIM'S PRECIOUS LITTLE LIFE, não será abaixo do excelente. E façam o favor de comprar/encomendar também LOST AT SEA, a graphic-novel que me apresentou o Bryan Lee O’Malley. Este gajo vai longe! Preview aqui.

- THE ATHEIST #1 (Image)
Escrito por Phil Hester, com arte de John Mccrea. 32 pág., $3.50, preto e branco.
O começo de uma nova série bi-mensal protagonizada por Antoine Sharpe, um investigador do sobrenatural. Nada de original, mas Phil Hester (mais conhecido pelos seus desenhos, mas um argumentista bem competente) e John Mccrea são dois nomes que não costumam decepcionar. A investigar, depois de ler o artigo aqui...

- SCURVY DOGS VOLUME 1: RAGS TO RICHES TP (AIT/PlanetLAR)
Escrito por Andrew Boyd, com arte de Ryan Yount. 160 pág., $12.95, preto e branco.
Só ouvi dizer maravilhas desta série cómica sobre um grupo de piratas e as suas desventuras a tentar viver uma vida "normal". Esta compilação reúne todos os 5 números da série.

- STRANGE DAY (Alternative Comics)
Escrito por Damon Hurd, com arte de Tatiana Gill. 48 pág., $3.95, preto e branco.
Esta mini-graphic-novel fala de dois fãs dos The Cure, de faltar às aulas e de alienação. Merece chamada de atenção por ser escrita pelo criador de UNCLE JEFF, uma das histórias mais tocantes que já li em banda-desenhada.

- OWLY: JUST A LITTLE BLUE TP (Top Shelf Productions)
Escrito e com arte de Andy Runton. 112 pág., $10, preto e branco.
Segundo volume da série Owly. Já tenho ouvido falar muito bem desta série sem palavras, para todas (mesmo todas) as idades.

E pronto, é tudo. Aceitam-se comentários e/ou outras recomendações.

December 17, 2004

Heróis do Século XXI


THE ULTIMATES 2 #1
Argumento de Mark Millar
Arte de Bryan Hitch
Editado pela Marvel

É a muito aguardada sequela do sucesso retumbante que foi o primeiro volume de “The Ultimates”, a série mais entusiasmante e irreverente que a Marvel lançou nos últimos anos. Mark Millar e Bryan Hitch voltam a pegar nas versões ultimate das personagens clássicas de Lee, Kirby & Companhia para mais uma viagem de doze números na montanha-russa.

Destaco primeiro a arte de Bryan Hitch, cada vez melhor, e já se espera pelo dia em que se diga que o Alan Davis quer ser o Bryan Hitch quando for grande. Dá-me ideia que Hitch tem uma capacidade maior para criar uma página mais estética, um bocadinho além da competentíssima storytelling de super-heróis de Davis. Talvez o argumento puxe por essas qualidade dele, lembro-me que os seus números em JLA não eram tão interessantes. A cena inicial deste número está excelente, é o momento de acção a fazer lembrar a série anterior que, diga-se de passagem, é capaz de ser a única base de comparação válida para a arte actual de Hitch, e mesmo para a série em si. As cenas na cela de Banner mostram bem o puro design de Hitch, e as panorâmicas sobre Iskellion são sempre de grande espectáculo. Já na capa, há um esforço em mostrar o "group shot" sem ser de uma forma estafada de "photo-op" demasiado óbvia de que os comics de super-grupos costumam abusar.

Sobre a escrita de Millar, pode-se dizer que nem sempre é tão regular quanto a sua capacidade de criar expectativa sobre os seus projectos, e o primeiro volume da série será muito difícil de superar. Tentar encontrar enredos que nos façam esquecer a destruição em massa, as invasões de extra-terrestres mesmo feios e as relações complicadas entre personagens, tudo coisas que já vimos, não será certamente fácil. Este primeiro número, não se pode dizer que seja um começo em grande escala, mas temos uma cena de abertura com um Captain America imparável no palco de uma das guerras bushianas. É o tipo de cena a que Millar já nos habituou, que são bem típicas dos super-heróis de tendência "século XXI", sacanas proactivos e a fazerem lembrar um Clint Eastwood dos filmes do Sergio Leone.

Mas para serem um Ultimate, a estas personagens não basta ser-se um duro e fazer boa figura nos suportes da cultura tablóide do glamour. Há que esconder muito bem os pés de barro com que Millar soube calçá-los na primeira série, e agora os dedões já começam a espreitar por debaixo do manto de respeitabilidade do grupo. Uma coisa muito bem conseguida na série anterior foi a forma como Millar torna os leitores cúmplices dos Ultimates, especialmente na questão Hulk, e nos mostra as personagens como sendo seres humanos normais, capazes dos mesmos pensamentos mesquinhos que nos envergonhamos de ter na nossa vida real. Temos então super-heróis vaidosos, egocêntricos, ligeiramente desequilibrados psicologicamente, que fazem coisas que não vêm nos regulamentos e que conseguem safar-se à responsabilidade graças ao uso experiente do departamento de relações públicas. Por tudo isto, é de esperar que venhamos assistir nos números seguintes à queda em desgraça das super-celebridades, para diversão daqueles que as elevaram a esse estatuto. No caso de alguns, não se pode dizer que não mereçam.

Millar começa por atirar-lhes com a geopolítica à cara. Como resultado de acções mal justificadas bem para lá da jurisdição dos Ultimates, o auto-proclamado Deus do Trovão demite-se da equipa, alegando diferenças irreconciliáveis de agendas políticas. Thor prefere a companhia de um selectivamente visível Vollstagg, o Volumoso, que desce a um típico diner nova-iorquino para matar saudades da gastronomia mortal e deixar o aviso de que Loki voltou às suas travessuras habituais. Este primeiro número serve fundamentalmente de prólogo, em que os nomes do meio-irmão de Thor e do robot Ultron são atirados ao ar, à laia de "coming atractions".

Entretanto, os Ultimates têm os seus próprios problemas: Desde a patente incapacidade do Captain America em apreciar o cinema actual, passando pela inusitada amizade e colaboração científica entre o espancador de mulheres Pym e o espancador de cidades Banner, até ao pesadelo de relações-públicas à espera de acontecer quando o terrível segredo que desesperadamente os Ultimates tentavam manter longe do conhecimento geral é finalmente exposto. Todos os sub-plots parecem lançados, e Millar até promete superar o que vimos em “The Ultimates”, não porque seja uma coisa fácil, mas porque roça mesmo o impossível.

Quote: “Well, that’s the thing about being a grown-up, Pietro. Sometimes you have to break these little promises.”

Hit & Run Reviews: The New Avengers #1


THE NEW AVENGERS #1
Argumento de Brian Michael Bendis
Arte de David Finch
Editado pela Marvel

Depois da controvérsia gerada por “Avengers: Chaos”, em que a mesma equipa criativa empreendeu um verdadeiro “shock to the system” à série, exterminando algumas personagens clássicas e outras mais figurativas, o prometido novo elenco dos heróis mais poderosos da Terra surge agora em “The New Avengers”. E vem cheio de caras conhecidas. É a Marvel a JLAficar o supergrupo mais abrangente do seu catálogo editorial, escandalizando o fanboy incauto por esse mundo fora. Como membro confesso dessa espécie já há vinte anos, não vejo qual é o mal.

A história está boa e promete mais, mesmo que tenha já sido feita antes numa graphic novel que poucos se lembrarão. A arte de Finch parece adaptar-se cada vez mais ao estilo de Bendis que, como argumentista, tem o seu maior trunfo na reconhecida capacidade de escrever os melhores diálogos do ramo, sugerindo vida e personalidade às personagens que lhe vão parar às mãos. Desta vez, o vilão de serviço parece ser, já que a nostalgia assim o exigiu, o Electro. Max Dillon, aparentemente acabadinho de chegar de umas aulas de afirmação pessoal, provoca uma fuga em massa em the Raft, a ilha-prisão de máxima segurança para super-criminosos.

Por acaso do destino, o momento escolhido por Electro coincide com uma visita do advogado Matt Murdock (que alegadamente é o super-herói Daredevil), que por motivos profissionais se fazia acompanhar pelo guarda-costas Luke Cage e aproveitava uma visita guiada às entranhas das instalações, tendo como guia a outrora Spider-Woman original, Jessica Drew. E, quando as luzes se apagam, acorrem ainda à ilha outras duas personagens do universo Marvel com maior destaque: o tagarela Spider-Man e o sisudo Captain America. Parece que o grupo já está todo reunido. Ou será que ainda falta alguém? Snikt!

Quote: “I have a little voice that is telling me to run screaming from here.”

Hit & Run Reviews: Iron Man #1


IRON MAN #1
Argumento de Warren Ellis
Arte de Adi Granov
Editado pela Marvel

Warren Ellis resolve então começar por recapitular uma vez mais a origem de Tony Stark e da sua armadura Iron Man. Como pretexto, Tony aceita ser entrevistado pelo documentarista John Pillinger que o confronta de forma aberta com o historial das Indústrias Stark no raramente humanitário mas sempre lucrativo negócio do armamento, fornecendo guerras onde quer que elas precisem de minas e bombas e coisas que matem as criancinhas e as mulheres e os idosos para a fotografia.

Ellis, futurista convicto que ele é, foi o argumentista escolhido pela Casa das Ideias para o reboot do vingador dourado. Tony Stark, visto por Ellis, recicla as suas características mais sofisticadas e adopta uma filosofia mais seca e realista em relação aos seus negócios. Ganha também uma nova secretária que, por agora, não passa de uma voz petulante no auricular, e inevitavelmente opta por um novo design para a sua armadura de Iron Man, que ele continua a utilizar para fins levemente zen.

Mas a história deste primeiro número passa também pela empresa Futurepharm, de onde uma misteriosa fórmula experimental chamada Extremis foi vendida clandestinamente a um grupo anarquista por um funcionário com tendências suicidas e sintomas clássicos de auto-comiseração galopante. Tony recebe um pedido de ajuda de Maya Hansen, designer médica às aranhas da Futurepharm, em nome da amizade recente entre eles e duma promessa feita em cima de umas poucas bebidas.

Na arte, temos Adi Granov, um puto novo, adepto das novas tecnologias que nos trouxeram a arte de formato digital. Poderá ser menos dinâmica, dirão uns, mais indicada para pin-ups e capas, mas agrada-me o resultado.

O casting da equipa criativa parece assim um pouco óbvio, e os temas já haviam sido abordados na década de oitenta, nos tempos do argumentista David Michelinie. Mas os diálogos sempre snappy de Ellis, a arte refrescante de Granov e um cliffhanger arrepiante acabam por tornar este primeiro número bem mais interessante que o Captain America #1.

Quote: “Hard to believe I used to be able to fit this into a suitcase.”

Hit & Run Reviews: Captain America #1


CAPTAIN AMERICA #1
Argumento de Ed Brubaker
Arte de Steve Epting
Editado pela Marvel.

O re-lançamento de uma das personagens mais emblemáticas do universo Marvel foi precedido de uma boa dose de hype, como parece ser cada vez mais a receita para estas situações. Ao leitor foram feitas promessas de assombro, à cobrança da equipa criativa composta pelo argumentista Ed Brubaker e pelo desenhador Steve Epting.

A magnífica arte de Epting cumpre tudo o que a propaganda anunciava, e está bem mais suave do que há uns anos, durante a sua run em “Avengers”. Mas o argumento deste #1 não traz assim muito de novo, e quase nada de assombro.

Steve Rogers, no rescaldo do evento “Chaos", passa por algumas dificuldades em lidar com a morte de alguns dos companheiros nos Avengers, e isso reflecte-se no seu modus operandi como Captain America. De tal modo, que Sharon Carter é despachada para lhe oferecer um ombro onde desabafar e conselhos que se possam seguir à letra.

Entretanto, e pelas costas, a velha pedra no sapato da sentinela da liberdade, o Red Skull, prepara-se para iniciar mais um esquema megalomaníaco onde a morte e a destruição são sempre cabeças de cartaz. Infelizmente para todas as partes envolvidas, a entrada em cena de uma figura potencialmente muito mais perigosa que a do mero fascista cadavérico do tempo da minha avó, vem baralhar as previsões mais cínicas e, esperemos, dar o mote para o tal assombro que nos prometeram.

Quote: “You’re at your lowest point, and that’s why you’ll never see me coming this time.”

December 11, 2004

Comics Hunter: Mission Stockholm

Howdy!

Depois de algum tempo ausente, eis-me de volta ao Blog com algo que já há algum tempo me tinha lembrado de fazer: um pequeno guia de lojas de Comics dentro e fora de Portugal, rubrica à qual dei o nome de Comics Hunter.

Uma das coisas que gosto de fazer quando estou fora de casa é procurar lojas de Comics. Em alguns paises é relativamente fácil encontrá-las, mas noutros é praticamente impossível, o que por vezes torna a "caçada" mais interessante.

Hoje trago-vos duas sugestões de lojas que encontrei em Estocolmo, Suécia.

À semelhança de Portugal, é possível encontrar BD de Super-Heróis editada na lingua local, em qualquer quiosque de jornais. Quando lá estive, há um par de semanas atrás, vi nas bancas o "Riot at Xavier's" de X-Men, e o Spider-man de Straczinsky, ainda desenhado pelo John Romita Jr. Mas e o tradicional Comic Book de 32 páginas, importado dos States ? Bem, isso foi muito mais dificil, e tive de procurar pelas lojas da especialidade.

Daquelas em que estive, destaco estas duas :

SCIENCE FICTION BOKHANDELN
Vasterlanggatan 48


Trata-se de uma loja enorme dedicada à Ficção Científica. Tem de tudo, desde DVDs a livros, jogos de tabuleiro e RPGs. No que diz respeito a BD, a maior parte do material é Manga' japonês. Comics americanos, apenas se encontram no formato Trade Paper Back, e existe também uma secção dedicada a albuns de BD europeus, principalmente franco-belgas. A selecção de filmes em DVD é muito boa e variada. De Anime existem vários titulos disponíveis, muitos deles importados dos Estados Unidos, e a metade do preço que se conseguem nas lojas de cá. Também têm uma boa colecção de DVDs de Series de TV, como o Mutant X, Babylon V, e por aí fora.
No que diz respeito a jogos, pode ver-se muita coisa de Lord of the Rings e Warhammer.

Aliás, em Estocolmo é rara a loja de jogos e ou brinquedos que não vende Warhammer. Já Heroclix ou Mage Knight, não encontrei em lado nenhum.

COMICS HEAVEN
St. Nygatan 23


Esta loja tem um nome um bocado enganador. É que à semelhança de todas as ditas lojas de Comics que vi em Estocolmo (esta foi a terceira), é muito dificil encontrar Comics recentes vindos dos Estados Unidos. A primeira coisa que salta à vista quando se entra numa loja destas é a desarrumação. Existem caixas por todo o lado na loja, com edições antigas de comics publicados na Suécia, comics importados, action figures espalhados por todo o lado, enfim, uma grande confusão. As lojas de Comics de Estocolmo são aquilo que cá em Portugal conhecemos como alfarrabistas. Têm muita coisa, mas a maior parte parece ser em segunda mão, e apenas com uma grande dose de paciência se consegue encontrar alguma coisa.

Ambas as lojas ficam situadas no centro histórico da cidade, Gamla Stan, e a uns 200 metros uma da outra, em ruas paralelas entre si. As bolas vermelhas indicam a localização das lojas, sendo a bola maior relativa à loja maior, a SFB.
Acaba por ser o melhor sitio para arranjar material made in USA mais recente, mas apenas em TPB. E mesmo em frente da loja há uma Coffee Shop muito agradável, onde se pode fugir do frio e folhear os livros acabados de comprar :-)


November 24, 2004

Os Homens do Presidente da Câmara


EX MACHINA: State of Emergency
Escrito por Brian K. Vaughan
Desenhado por Tony Harris
Editado pela Wildstorm

Os criadores Brian K. Vaughan (Runaways) e Tony Harris (Obergeist) trazem-nos agora “Ex Machina”, a série creator-owned que começou a sair há uns meses pela Wildstorm e que conseguiu alguma visibilidade na imprensa mainstream. Apesar de “Ex Machina” ter como protagonista uma personagem que facilmente se poderia catalogar de “super-herói”, é evidente o esforço dispendido para a tornar atractiva a um público menos conhecedor do meio da banda desenhada, e tentando agradar a uma faixa etária que já tenha deixado para trás o género mais tradicional e juvenil de se escrever histórias de super-heróis.

O jovem engenheiro civil da câmara de Nova Iorque, Mitchell Hundred, criara-se com as histórias dos super-heróis da DC na cabeça. Seria previsível que se pusesse a voar de um lado para o outro à maluca, tirando o máximo partido das novas habilidades obtidas após um estranho incidente junto a um pilar da ponte de Brooklyn. O que quer que fosse aquele estranho gadget esverdeado e brilhante que ele encontrara a flutuar nas águas do Hudson, explodiu quando ele lhe tocou e, além da bela da cicatriz no rosto, Mitchell ficou com a capacidade de “falar” com todo o tipo de maquinaria, convencendo-as com falinhas mansas a fazerem o que ele quer.

Incentivado pelo amigo russo expatriado Kremlin, e por Bradbury, o tipo que o levou a dar um passeio fluvial naquela fatídica noite, Mitchell lá acede à ideologia juvenil fundamentada pela lógica dos comic books com os quais, muito provavelmente, todos os três haviam aprendido a ler e decide-se a ir lá para fora combater o crime, e mais não sei o quê. Dando bom uso aos inventos que lhe surgem durante os sonhos, Mitchell torna-se no super-herói “The Great Machine”, é prontamente perseguido pela imprensa e pela comissária de polícia, desiste contra a vontade dos amigos e resolve antes concorrer à câmara municipal da grande cidade que é Nova Iorque. E, com a ajuda de um democrata rasta, ganha as eleições como candidato independente.

“Ex Machina” começa mais ou menos nesse ponto, mostrando-nos episódios do passado de Mitchell à laia de pistas para o que se está a passar no tempo presente. O agora Mayor Mitchell Hundred tem de se desdobrar para resolver os problemas de gestão de uma cidade inteira, proibido que está de recorrer às suas capacidades de engenharia telepática. Assim que toma posse, o Mayor tem de se haver com políticos chantagistas, jornalistas curiosos, artistas plásticas com um sentido de humor retorcido, e o eventual assassinato em série que vai fazendo miséria nas fileiras dos condutores de limpa-neves durante o pior nevão da história.

Brian K.Vaughan experimenta calçar os sapatos apertados de Aaron Sorkin injectando os meandros da política de bastidores no género de super-heróis. O encosto à série de televisão “The West Wing” é óbvio, e não há nada de errado nisso. A ideia é boa, mas talvez o resultado final saia curto em relação ao objectivo proposto. As personagens estão lá, os diálogos quase que estão (Vaughan faz melhor em “Y- The Last Man”, por exemplo), os conflitos e problemas surgem em catadupa e variedade, de forma a dar alguma coisa a fazer a cada uma das personagens.

A arte de Tony Harris aparece mais solta em “Ex Machina”, se compararmos com o trabalho dele em “Starman”. Esta evolução agrada-me, especialmente no traço, porque Harris não perdeu o sentido estético que já fazia parte do seu portfolio e que o ajuda a ilustrar de forma cativante uma série que é fundamentalmente uma sucessão de cenas de diálogo umas atrás das outras.

Estes primeiros cinco números de “Ex Machina” acabam por ser algo parados, disparando referências ao que está por vir e ao que se passou antes, talvez a pôr a mesa para um “A Origem de…” ou “O Regresso do Terrível Fulano Que…”. Os assuntos políticos deverão continuar a ser a pedra de toque de “Ex Machina”, e esperemos no futuro poder acompanhar a evolução das personagens na órbita do protagonista Mitchell Hundred. “State of Emergency” não é um mau arranque, mas talvez tenha ficado um pouco atascado no hype inicial da série. Deseja-se as melhoras.

QUOTE “And here I thought cheese was your kryptonite… you lactose intolerant fuck.”

November 18, 2004

Recomendações PREVIEWS - Novembro

Algumas breves recomendações para encomendas deste mês da PREVIEWS (VOL. XIV #11), o catálogo da principal distribuidora de comics norte-americanos...

- CONAN VOLUME 1: THE FROST GIANT'S DAUGHTER AND OTHER STORIES TPB (Dark Horse)
Escrito por Kurt Busiek, com arte de Cary Nord e Thomas Yeates. 176 pág., $15.95.
Este trade-paperback compila os primeiros 6 números da nova série da Dark Horse, mais 14 páginas do número 7 (não me perguntem o motivo disto). Esta nova versão do Conan tem sido extremamente elogiada e popular e, tendo já lido os primeiros 2 ou 3 números, fiquei com vontade de comprar este TPB. Veremos...

- LAST TRAIN TO DEADSVILLE: A CAL MCDONALD MYSTERY TPB (Dark Horse)
Escrito por Steve Niles, com arte de Kelley Jones. 144 pág., $14.95.
Após ler a primeira e divertidíssima mini-série dedicada a Cal McDonald, investigador do sobrenatural, fiquei convencido. Vou encomendar esta nova compilação, agora com a arte única de Kelley Jones (excelente artista para ambientes macabros), de quem já tinha saudades...

- EX MACHINA: THE FIRST HUNDRED DAYS TPB (DC/Wildstorm)
Escrito por Brian K. Vaughan, arte de Tony Harris & Tom Feister. 136 pág., $9.95 US, MATURE READERS.
Recomendo vivamente este TPB. Compila os primeiros números da mais recente série de Brian K. Vaughan, que tanto tem dado que falar com Y: THE LAST MAN. A arte de Tony (STARMAN) Harris também é outro ponto alto dest thriller que mistura política, mistério e um pouco de super-heróis.

- CATWOMAN: RELENTLESS TPB (DC)
Escrito por Ed Brubaker, arte de Cameron Stewart e Javier Pulido. 192 pág., $19.95 US.
Nova compilação (números 12 a 19) da excelente série escrita por Ed (SLEEPER) Brubaker. Por detrás de algumas destas histórias de aventura e policial, escondem-se alguns situações verdadeiramente tocantes. Cameron Stewart e Javier Pulido são dois dos melhores artistas da actualidade, no género de desenho mais estilizado.

- SEAGUY TPB (DC/Vertigo)
Escrito por Grant Morrison, arte de Cameron Stewart. 104 pág., $9.95 US, MATURE READERS.
Outra vez Cameron Stewart, desta vez num TPB que compila uma das mais recentes mini-séries saidas da imaginação, nem sempre bem controlada, de Grant Morrison. Esta estranha história acompanha as aventuras de Seaguy e o seu companheiro Chubby Da Choona (um peixe que fuma charutos). Apresentando jogos de xadrez com a Morte, múmias, parques de diversão maléficos, viagens à lua e estátuas da ilha da Páscoa a fumar, garanto que não vão encontrar muita coisa parecida com SEAGUY.

- SINGULARITY 7 TPB (IDW)
Escrito e com arte de Ben Templesmith. 120 pág., $19.99.
O preço é um pouco alto (como é habitual com a IDW), mas pelo que já vi da belíssima arte, é capaz de compensar. Com a humanidade a viver em cidades subterrâneas após um assalto de entidades microscópicas, sete homens e mulheres terão de salvar o dia. Ficção-científica sombria, ao que me parece...

E é tudo. Por acaso, são tudo compilações de material já existente, mas como sempre, há muitas coisas boas para todos os gostos. O difícil é escolher o que encomendar...

November 11, 2004

A Crise dos Crossovers - parte II

Reunidos então todos os ingredientes necessários, estão (quase sempre) garantidas as condições para um crossover de sucesso. O evento vai dar que falar, haverá muita expectativa, os leitores vão querer ler a história e alguns irão até comprar comics de séries que habitualmente não seguem, de modo a melhor acompanharem o crossover. Se a editora tiver sorte, muitos destes leitores continuarão depois a seguir as séries que conheceram durante o crossover... O claro objectivo foi totalmente atingido: a editora conseguiu aumentar o seu volume global de vendas, não apenas durante o decorrer do crossover, mas também depois deste terminar.


Se a editora, no entanto, tiver criado um crossover mal desenvolvido e pouco atractivo, o tiro pode-lhe sair pela culatra. Não só haverá pouca gente a comprar comics de séries que habitualmente não seguem, como provavelmente conseguiu incomodar os leitores habituais das séries que se viram envolvidas no evento. Tiveram de levar com uma história que fugia ao habitual e vão possivelmente sentir que o seu dinheiro foi mal gasto. Poderá até ser a gota de água que faz com que larguem definitivamente a série...


De qualquer maneira, quer um crossover seja um sucesso ou um fracasso, para mim a questão mais importante é a seguinte: será que é bom para os leitores que ele exista?


Cinicamente, poderia dizer que é uma iniciativa que serve apenas para conseguir extroquir (mais) dinheiro a leitores completistas, ponto final. No entanto, eu consigo ver os benefícios que os crossovers trazem a esse conceito, tão próprio ao mundo dos comics, que é o universo partilhado (por vários personagens). Um crossover bem pensado e implementado ajuda bastante a cimentar e tornar mais "realista" esse universo imaginário, pois permite reforçar as ligações entre várias séries e personagens. Tem também o potencial, nem sempre bem explorado, de permitir ao argumentista contar histórias ainda mais épicas que o habitual.


Infelizmente, grande parte dos crossovers que já segui durante a minha "vida" de leitor de comics ficaram aquém do que desejaria. E nem quero com isto dizer que os tenha achado maus. Mas a verdade é que se vou ler uma história que envolve muitos super-heróis, as minhas expectativas são (naturalmente) mais elevadas que o habitual. Desejo uma ameaça realmente poderosa, desejo confrontos realmente épicos e desejo algo realmente único. O problema é que, com o excesso de crossovers, começam-se a esgotar as idéias para histórias com esta proporção. Os mecanismos de funcionamento dos crossovers tornam-se mais visíveis e a rotina e o aborrecimento na leitura surgem com muito mais facilidade.


O que poderiam então fazer as editoras para combater isto? Simples. Para mim, bastava que os crossovers voltassem a ser um evento verdadeiramente especial. Se se tornassem realmente raros, ocorrendo apenas quando surgisse uma boa ideia, os leitores passariam a antecipá-los muito mais. Sentiriam assim que as histórias eram realmente importantes e por isso valorizá-las-iam muito mais. Fácil de dizer, quase impossível de acontecer... O problema é que, por mais que os crossovers se tenham tornado numa quase-rotina, as pessoas continuam a comprá-los. Podem já não ser o sucesso que eram, mas ainda "rendem" o suficiente às editoras para que elas não achem ainda que seria uma boa idéia estarmos uns dois ou três anos sem crossovers.

Talvez um dia...

November 8, 2004

A Crise dos Crossovers - parte I

Não sei bem porquê (provavelmente porque este ano tem sido marcado por IDENTITY CRISIS e por AVENGERS DISASSEMBLED), estes últimos tempos tenho dado por mim a pensar nos crossovers. Uma das inúmeras artimanhas utilizadas pela Marvel, DC e outras editoras para nos levarem a gastar mais dinheiro do que é habitual, são uma táctica que penso que surgiu nos anos 80, com SECRET WARS (Marvel). O sucesso dos primeiros crossovers levou a que outros surgissem e a que fossem exageradamente populares durante os anos 90.

Ultimamente, no entanto, este tipo de iniciativa tem estado a cair um pouco em desuso. Desde que começou o reinado Quesada, a Marvel tem recorrido muito pouco aos crossovers; a DC não se tem controlado tanto mas, ainda assim, tem diminuído o ritmo com que os põe cá para fora. A verdade é que estamos, felizmente, já bem longe da altura em que parecia que todos os anos haviam vários crossover por editora.

Como disse, tenho pensado um pouco no tema e achei que seria interessante examiná-lo à lupa. Tentar ver quais são os elementos mais comuns dos crossovers, as razões das editoras em os fazer e os benefícios que poderão trazer aos leitores. Comecemos pela sua receita. Após puxar bastante pela cabeça, cheguei à conclusão de que para se poder criar um crossover necessitamos então do seguinte:

- várias séries mensais, pertencentes a um universo comum (ou muito ocasionalmente, pertencentes a universos distintos)

- um título para o crossover, um nome de impacto que evoque conflito e confrontos; utilizar a palavra 'war' fica (quase) sempre bem

- um logotipo chamativo, para espetar na capa de todos os comics afectados (muito ou pouco) pelo crossover, de modo a serem facilmente identificáveis

- um aviso, sempre sério mas raramente verdadeiro, que depois do crossover acabar, "nada será como dantes"

- crossovers de classe A têm direito a uma maxi-série (sete ou mais números); crossovers de classe B têm direito direito a uma mini-série (três a seis números); crossovers de classe C têm direito a um comic especial para iniciar o evento e outro para o concluir; crossovers de classe D já têm sorte em existir, não podem exigir muito mais

- uma ameaça mega-poderosa; tanto poderá ser um vilão como uma guerra, conspiração, evento cósmico ou desastre natural; o importante mesmo é que seja necessária a intervenção de bastantes super-heróis para resolver a situação

- a ameaça em questão deverá ter inúmeras ramificações, que forneçam aos editores e escritores o motivo (ou deverei dizer "a desculpa"?) para envolver as diversas séries mensais no crossover

- um mistério que obrigue a alguma investigação pelos heróis, para provocar especulação entre os leitores e ajudar a que se fale do crossover [ingrediente não obrigatório]

- vários desentendimentos e confrontos entre heróis, muito apreciados pelos leitores que gostam de se interrogar "E se o herói X lutasse contra o herói Y?" [ingrediente não obrigatório]

- uma ou mais mortes; para maior dramatismo, o super-herói que vai desta para melhor dever-se-á ter sacrificado por uma ou mais pessoas, pelo planeta Terra ou (em crossovers de classe A) pelo próprio universo

- o surgimento de novos super-heróis; estes poderão ter direito a uma série mensal quando terminar o crossover [ingrediente não obrigatório]


Penso que é tudo, não me parece que tenha esquecido alguma coisa. Vou a seguir tentar ver o que têm os crossovers de bom e o que têm de mau...

October 29, 2004

Mais FIBDA 2004



Também eu fui "passear" ao FIBDA no primeiro sábado da exposição, e não posso dizer que não tenha valido a pena. Vale sempre a pena ir a um evento de BD, mesmo um como o FIBDA, que ano após ano vem, na minha opinião, a decrescer em interesse.
Continua a ser o maior evento de BD que temos em Portugal, mas também é praticamente o único, pelo que isso também não é muito abonatório.

O cartaz deste ano deixou-me a pensar...A primeira vez que o vi foi de relance, de carro, e pensei para comigo: "Que diabo...então num ano em que os comics estão quase completamente ausentes do evento, o cartaz é comics-inspired? Isso é que é publicidade enganosa..."

Mas analisando mais de perto, percebi melhor a mensagem. Um super-herói a rasgar o uniforme mostrando camisa e gravata só pode querer dizer que este ano o FIBDA decidiu cortar de vez com a temática dos super-heróis. Assim sim, faz sentido. Mas depois vi imagens da inauguração com pessoas disfarçadas de super-homem, homem-aranha, catwoman...enfim...voltei a ficar com a idéia de que afinal os super-heróis continuam no FIBDA, não com o destaque que a meu ver mereciam, mas pelo menos como elementos de marketing e publicidade fácil para atrair mais pessoas ao evento. Sigh.

Mas deixando as suposições e análises de lado e caindo na real, aquilo que posso dizer da minha visita ao FIBDA é que fiquei muito decepcionado com a falta de organização do evento. As desculpas de ser o primeiro fim de semana não são suficientes para a quantidade de falhas que havia. E quais foram ?

- Falta de luz nas exposições. A primeira que visitei foi a do autor que me levou ao FIBDA nesse fim de semana, o Seth Fisher. Dele falarei mais à frente. A exposição deste autor estava, simplesmente, na penumbra. Mas não era a única...

- A zona comercial estava dividida em duas classes: a Alta e a Baixa. Na Alta tinhamos uma autêntica loja ambulante da Asa. Bem iluminada, com espaço, chão alcatifado...enfim, um luxo. Na Baixa estavam os restantes estabelecimentos comerciais, ao estilo barraca de Feira do Livro, mas sem iluminação própria. Valeu que a iluminação das galerias do metro ainda dava para ver alguma coisa. Mas penso que isso foi resolvido depois, pois durante toda a tarde de sábado vi bastantes electricistas com escadotes a ligar fios. Bonita imagem, hem ?

- Exposições sem identificação do autor/autores. A meia luz, lá fui tentando ver algumas das exposições presentes. Vi uma que pelo programa penso que se tratava do grupo de autores da Serra da Estrela (Jose Ruy, etc). Sai e entrei várias vezes do recinto à procura do nome da exposição, mas nada. Ao lado dessa estava outra na mesma situação, ou seja, sem nome.

- Páginas de BD na exposição 100 anos de BD mal identificadas ou ausentes. A idéia das colunas estava engraçada, com elementos decorativos relativos à BD em causa (elmo do Asterix, boneco do Lucky Luke, a máscara do Batman, etc), mas era um bocado dificil uma pessoa orientar-se naquele labirinto. Fiquei com a impressão de que deixei de ver algumas pranchas por pensar que por ali já tinha ido. E outras houve em que simplesmente não havia prancha na coluna. Um exemplo de falha na identificação saltou à vista, quando uma página do Batman desenhada pelo Norm Breyfogle aparecia catalogada como sendo de Frank Miller.

- Desconhecimento por parte do staff da organização dos eventos que estavam no programa. Consegui convencer um amigo meu a ir comigo ao workshop do Seth Fisher, e assim levá-lo a conhecer o FIBDA deste ano. Quando ele lá chegou perguntou na entrada onde era o workshop de BD, e ninguém lhe sabia dizer. "Workshop? Não deve ser aqui." Não admira que não soubessem, uma vez que à hora de inicio do workshop ainda não sabiam em que lugar do recinto este iria ter lugar. Lá se arranjaram umas mesas à pressa, para levar para o auditório.

- Anunciar dos eventos ? Yeah, right. Workshop e conferências eram anunciadas a pedido insistente dos intervenientes, bem depois de terem começado, e as sessões de autografos por vezes eram anunciadas com nomes de autores que nem sempre estavam presentes. What? Ah pois, era o primeiro fim de semana. A confusão, meu Deus, a confusão...

- Voltando à conferência em que estiveram presentes David Soares e Seth Fisher, no auditorio, lá se perdeu a apresentação do autor português graças a inexistência de um projector que funcionasse. Acabei por ficar sem perceber muito bem o que um ensaio sobre a BD e literatura teria a ver com o "panorama actual dos comics made in USA, novos desafios...", que estava anunciado como tema para a conferência.

Enfim, uma grande balda bem à portuguesa, dirão alguns. Vá lá que tiveram a decência de não cobrar bilhetes nesse dia, face à falta de condições que foram apresentadas.

Então, com tudo isto, porque é que comecei por dizer que valeu a pena lá ir ?
Bem, porque aquilo que lá me levou foi precisamente a workshop do Seth Fisher, autor que a Kingpin-of-Comics trouxe a Portugal este ano. Achei a workshop muito interessante. O autor é muito simpático, ainda que um pouco excêntrico, e conseguiu transmitir bem as suas idéias para os "aspirantes" a artistas. Na conferência gostei de o ouvir falar sobre o modo como os japoneses lêem, vêem, vivem a banda desenhada, seja ela comics, manga ou outros estilos. Espaços estilo cybercafé mas de Comics ? Fiquei com vontade de visitar o Japão.

Quanto ao FIBDA...conto voltar a visitá-lo no último fim de semana, mas por outras razões. Afinal os super-heróis sempre vão ter direito a alguma atenção no FIBDA deste ano. Se não nas exposições nem nos artistas convidados, pelo menos em jogos inspirados por estes. Ainda bem que no meio disto tudo ainda há alguém com espirito irredutivel, quase gaulês, que vai dando oportunidade a estas personagens de terem algum destaque neste tipo de eventos. Obrigado Mário.

October 27, 2004

Passeio pelo FIBDA

Como avisámos por aqui a semana passada, o FIBDA já começou, e este sábado decidi-me a ir lá. Como a localização do espaço principal mudou em relação a anos anteriores, ainda tive de dar algumas voltas (fui de carro) até lá chegar. Felizmente, havia, como sempre, muitos placares a indicar as direcções a seguir e foi simples chegar ao local. O estacionamento também foi fácil, num parque ao lado da entrada para o metropolitano que contém as galerias onde o festival se instalou.

Quando entrei, a primeira impressão que tive foi de que o tecto estava baixo demais. Não o suficiente para ser opressivo, mas o suficiente para tirar alguma da sensação de espaço aberto que penso que deve sempre haver neste tipo de eventos. Não me pareceu, no entanto, que as outras pessoas sentissem o mesmo, por isso deve ser alguma leve sinal de claustrofobia da minha parte...

A primeira zona que visitei foi a das bancas das lojas e editoras (Mongorhead, Kingpin, BDMania, Devir, etc), que me pareceram mais bem montadas que nos anos anteriores. Ainda assim, neste dia pelo menos, ainda estavam com alguns ligeiros problemas técnicos. Mas ignorando esse pormenor, há bastante coisa para ver e comprar. Comics, livros, t-shirts ou miniaturas, há de tudo um pouco e algumas das promoções são de aproveitar.

Dei depois uma volta pelos vários espaços de exposição - temáticas, dedicadas a artistas em particular ou relacionadas com o concurso deste ano. Confesso que não vi nada com muita atenção, mas é porque tenciono voltar ao FIBDA noutro dia, com mais calma e sossego, para apreciar as obras expostas sem grandes pressas. De qualquer maneira, achei o espaço das exposições um pouco confuso. Está separado por alguns corredores, também com material exposto, mas a ordem (se é que há alguma ordem) a seguir não é muito clara. Não que seja obrigatório haver alguma ordem, claro, mas ajuda uma pessoa a orientar-se e saber o que já viu e o que tem para ver.

Também visitei o auditório, onde irão decorrer debates e palestras, e que me pareceu um pouco inacabado. Estive lá primeiro para uma pequena mas interessante work-shop de desenho dada pelo Seth Fisher, onde ele deu umas noções básicas de desenho de personagens, espaços e perspectiva, para além de falar de alguns truques que utiliza para obter certos efeitos na página. Voltei depois para uma palestra com o David Soares (que infelizmente viu a sua apresentação prejudicada por um retroprojector que se recusou a dar à luz) e, de novo, com o desenhista norte-americano (Seth Fisher falou agora de manga, do mercado dos comics norte-americanos e da sua vivência pessoal no Japão, onde reside).

Nessa tarde decorreram sessões de autógrafos com, entre outros, o genial José Carlos Fernandes (para quando um novo volume d'A PIOR BANDA DO MUNDO?), Seth Fisher e Bryan Talbot. Este último, com um look de gentleman (mas de botas estilo cowboy pretas!) pareceu-me um pouco ignorado, pelo menos em relação aos outros autores presentes.

E penso que não há muito mais a dizer. Apesar dos pequenos defeitos e problemas que encontrei (alguns motivados, de certeza, por ser o fim-de-semana inaugural e já resolvidos entretanto), o FIBDA continua a ser o maior evento de banda-desenhada em Portugal e duvido que alguém lá vá e saia achando que foi uma perca de tempo.

Mais comentários depois da próxima visita...

October 24, 2004

Terrores Nocturnos.



NIGHTCRAWLER #1
Escrito por Roberto Aguirre-Sacasa
Desenhado por Darick Robertson
Editado pela Marvel

Tal como os Beatles, aqui há atrasado, dá toda a sensação que os X-Men se separaram e todos resolveram seguir os seus projectos a solo. Na verdade, estas personagens não foram ví­timas de maquiavélicas tricas yoko-onescas, mas sim de filosofias editoriais bem mais óbvias. Sacrificando todas as leis de continuidade e de coesão, as populares personagens dos X-Men têm-se desdobrado ultimamente em séries e mini-séries a solo, praticando a omnipresença com evidente desdém por aqueles a quem a boa e velha "suspension of disbelief" já não chega para explicar tudo. Nightcrawler não escapou à enxurrada e aparece agora o número de estreia de uma série que se exige que seja longa e de boa qualidade. Digo eu, já que se trata da minha personagem favorita do universo Marvel, e choro se as coisas não estão exactamente como eu gosto.

Como equipa criativa, temos o contributo no argumento do dramaturgo tornado profissional de comics Roberto Aguirre-Sacasa. É o meu primeiro contacto com o trabalho dele, e a primeira impressão não é das melhores, infelizmente. Tendo em conta que este é o primeiro número da série, fundamental para agarrar o público, seria de esperar uma história mais interessante. Por outro lado, tendo também em conta ser este o número um de Nightcrawler, poderá ser injusto tomá-lo pelo todo. Para já, poder-se-á dizer que existe uma imensa margem de progressão, e esperar que o argumento a cumpra nos números seguintes.

Uma tragédia aconteceu numa ala de psiquiatria infantil num hospital de Nova Iorque, onde uma quantidade estúpida de crianças especiais aparece morta numa enfermaria sob circunstâncias misteriosas. O corriqueiro, nestas situações. A única testemunha é Seth, a criança que foi a única sobrevivente do que quer que tenha acontecido naquela enfermaria quando ninguém estava a olhar. Seth é também o principal suspeito. Na hipótese de ele ser um mutante, Kurt Wagner, o mutante de serviço, é enviado para averiguar o que se passou.

No que Aguirre-Sacasa parece falhar é na previsibilidade, pelo menos aparente, desta história, com alguns lugares-comuns que estão escritos de uma forma rotineira, sem surpresas quer em termos de enredo, quer no que toca a personagens. Estas aparecem aqui apenas como elementos meramente funcionais e estereotipados, como o director de serviço com a atitude suspeita, a enfermeira de saia curta, o vigilante que não está a dizer tudo o que sabe, e a criança autista com a atitude renitente em relação à comunicação verbal. Além disso, embora o Nightcrawler seja uma personagem dada a ocasionais momentos reflectivos, não é de todo uma personagem sorumbática, e ela aqui parece-me demasiado deslocada.

No capítulo da arte, nada a apontar. Darick Robertson transfere-se da série "Wolverine" para esta, no que muitos poderiam ver como uma despromoção, mas eu até acho que o estilo suave dele funcionará melhor com o Nightcrawler. Há uma ênfase nos ambientes escuros, para tirar partido da capacidade de camuflagem do herói, e gosto sobretudo da forma simples e realista com que Robertson o desenha em quase todos os momentos, expressando bem a sua vulnerabilidade.

Como escrevi acima, o problema em "Nightcrawler #1" não é da arte, e talvez não exista nenhum problema, a longo prazo. Roberto Aguirre-Sacasa tem sido elogiado pelo trabalho que faz em "4", a série dos Fantastic Four que sai pela Marvel Knights e que eu ainda não tive oportunidade de ler. Fico na esperança que "Nightcrawler" ganhe em interesse e em movimento, e que os diálogos apareçam mais fluidos daqui em diante, e que a série se torne no que a personagem merece que seja.

QUOTE "Do you believe in evil, Mr. Wagner? True evil?"

October 22, 2004

Figurinha de ampulheta.


BLACK WIDOW #1 (de 6)
Escrito por Richard K. Morgan
Desenhado por Bill Sienkiewicz
Editado pela Marvel Knights

Natasha Romanova, a. k. a. Black Widow. Ex-bailarina. Ex-agente do KGB. Ex-super-heroína. Ex-agente da SHIELD. Um currículo demasiado intricado e misterioso, em que as únicas constantes poderão mesmo ter sido o ruivo natural do seu cabelo e a facilidade com que fazia inimigos por onde quer que passasse. Aqueles que ela não matou enquanto operacional hiperactiva, agora reemergem para a matar a ela, tal e qual como vem estipulado n’O Grande Livro das Regras da Espionagem e do Recalcamento.

Eternamente jovem e ainda com a figurinha de ampulheta, Natasha planeava viver os anos de reforma na clandestinidade que as paisagens desoladas do Arizona lhe ofereciam, tendo a insónia como penitência e substituta do sono, e o montanhismo como antídoto para as noites em branco. Quando um turista louro leva a cabo uma tentativa de assassinato espontâneo da sua pessoa numa estrada convenientemente perdida, a Viúva Negra desconfia que o passado tenta uma vez mais tecer a sua teia à sua volta, da pior maneira possível. A violência regressa à vida de Natasha e, como sempre, ela acabará por ser a responsável por grande parte da sua intensidade.

Esta é a premissa da nova mini-série da Black Widow e, admitindo que não seja sequer muito original à partida, a forma como o escritor britânico Richard K. Morgan mete mãos à obra torna a história numa leitura viva e entusiasmante. Os diálogos estão lá, e o ritmo também, e a direcção da história não é totalmente evidente neste primeiro número, o que é sempre bom numa história de espionagem e suposta vingança. É a primeira tentativa no campo dos comics books pelo galardoado autor do romance noir futurístico “Altered Carbon”, que recebeu o prémio Phillip K. Dick em 2003. E, a julgar apenas por este número de estreia, podemos estar na presença de um talento que seria válido, e até necessário, para o meio. Há muito tempo que não chegava ao fim de um comic book com aquela sensação de impaciência, de querer, e não me apetecer esperar um mês inteiro para, saber o que acontece a seguir.

Mas se o argumento satisfaz em toda a linha, o que me levou a comprar este comic, à parte do facto de ter uns trocos soltos a fazerem demasiado barulho no meu bolso da última vez que estive na BDMania, foi a arte do veterano Bill Sienkiewicz. Em “Black Widow”, Sienkiewicz compromete alguma da sua estética mais liberal e tão apreciada, e retrocede algumas casas na direcção do estilo mais clássico dos seus tempos de Moon Knight, mas parando magistralmente a meio caminho, bem a tempo de ganhar em termos de sequência gráfica e storytelling, exibindo à mesma o gosto pelo tracejado e pelos negros que o facto de ser o seu próprio arte-finalista lhe permite manter. Vale a pena ainda notar as cores de Dan Brown que se ajustam ao ambiente vincado já de si criado pela arte de Sienkiewicz, sem parecerem nem redundantes nem ineficazes. Claro que, se Sienkiewicz pintasse esta série, sem dúvida seria um produto final ainda mais atractivo, mas talvez perdêssemos a hipótese de matarmos saudades do traço mais clássico do artista.

Assim como está, “Black Widow” arrisca-se a relançar uma das personagens da Marvel com maior potencial para temáticas mais adultas, e a importar para a indústria mais um escritor de talento do chamado mainstream.

QUOTE “…His blood runs out into the desert… and the sand drinks it up… and he doesn’t say a word. It takes him over an hour to die. And he doesn’t say a damned word. Old school. It seems I’m in trouble.”

Festival de BD da Amadora: dois destaques

Começa hoje a 15ª edição do Festival de BD da Amadora. De entre os diversos convidados, destaco dois mais ligados aos comics norte-americanos...

Seth Fisher é um desenhista que tem feito vários trabalhos para a editora DC Comics, como HAPPYDALE, GREEN LANTERN: WILL WORLD, FLASH: TIME FLIES, DOOM PATROL (imagem abaixo) e VERTIGO POP: TOKYO. É um artista com um traço original, que tem uma linha limpa, fina e segura (não costuma deixar nada por definir na página) e com um talento especial para "composição espacial". Gosto bastante do trabalho dele e estou bem curioso em ver a exposição que lhe dedicaram no festival.

Bryan Talbot é um veterano argumentista e desenhista. É o responsável por THE ADVENTURES OF LUTHER ARKWRIGHT (uma obra visionária iniciada em 1978 e fortemente inspirada na obra literária de Michael Moorcock), a sua continuação HEART OF EMPIRE e TALE OF ONE BAD RAT (uma graphic-novel bastante premiada). Trabalhou também em SANDMAN, BATMAN: LEGENDS OF THE DARK KNIGHT e FABLES. Apesar de respeitar o Talbot e ter gostado bastante de THE ADVENTURES OF LUTHER ARKWRIGHT e HEART OF EMPIRE, os desenhos dele nem sempre me caem bem, não sei bem explicar porquê...

Mais informação sobre o festival aqui e aqui. Se alguém descobrir o site oficial do festival (se é que há um site oficial) que avise, sff.

New Thunderbolts

Howdy!

Tal como Scott Kolins, Tom Grummett é um artista cujos trabalhos na Marvel (Avengers/Thunderbolts, por exemplo) não têm tido o mesmo impacto visual que tinha em titulos DC como os Titans, e mesmo em alguns números de Power Company. E tal como o Kolins com o futuro Marvel Team Up, Grummett promete vir a deixar a sua marca na Marvel também, pelo que se vê num preview do New Thunderbolts #1.



Wow, que imagem. Ok, pronto, eu admito que qualquer desenho bem feito com a Brooklyn Bridge me impressiona. Estou-me a lembrar do Bachalo em Ultimate War, por exemplo. Mas que isto promete, promete.

Podem ver a página completa, mais páginas e alguns comentários dos argumentistas Fabian Nicieza e Kurt Busiek no artigo da Pulse.

October 18, 2004

Uncanny X-Men 450



A imagem acima é a capa do Uncanny 451, mas para aquilo que eu quero dizer em relação ao 450, serve.

Não há necessidade de spoilers, pois não vou revelar nada de importante para a história. Apenas gostava de chamar à atenção para algo que aprecio muito no modo como Chris Claremont escreve X-Men, e que são as "pequenas coisas".

Por vezes surgem na forma de diálogo, como numa cena em que Logan e Ororo estão à entrada de um teatro na Broadway e o velho "canuckle head" comenta "That kid Jackman reminds me of me", ao que Ororo responde "Why Logan, do you sing and dance?". Hugh Jackman, o actor que interpreta Wolverine no cinema, esteve durante alguns meses a fazer um musical na Broadway, "The Boy From Oz", onde canta e dança como um verdadeiro profissional. Acho que chegou a ganhar um Tony, os oscares do teatro musical, e quanto a mim foi bem merecido. O homem é realmente fantástico no papel de Peter Allen. Um verdadeiro entertainer. Oxalá saisse esse musical em DVD.

Mas voltando ao comic, aqui está Claremont a introduzir situações da vida real num universo de ficção, ajudando a dar mais realismo e dimensão às personagens sobre as quais escreve há anos.

Outra gema, trata-se do uniforme que a personagem X23 tem na imagem acima, e de mais um comentário feito pelo Logan - "Nice costume". O engraçado da coisa é que aquele é o uniforme de Fang, uma personagem que fazia parte da Shi'ars Imperial Guard. Quando os X-Men ajudaram a Lilandra a derrotar o seu demente irmão, D'ken, que pretendia usar o cristal M'krann para dominar o universo e arredores, Logan derrotou Fang e acabou por regressar à Terra com o uniforme deste, uma vez que o seu tinha ficado em pedaços.

Sem ser essencial para curtir a história actual, Claremont consegue com este tipo de pequenas coisas adocicar a história para os leitores mais antigos, quase que a dizer: "hey, eu sei que vocês andam por aí. Este é o mesmo Logan dessa altura. Estejam descansados que o passado existiu tal como o conheceram."





Free Comic Book Days na BDMania



De 16 a 23 de Outubro vai decorrer na BDMania a semana Free Comic Book.
Durante essa semana todos os visitantes vão levar pelo menos um comic book grátis para casa, sem ter de comprar nada. Depois dependendo das compras podem ganhar mais. Vão existir várias promoções, lançamentos e sessões de autógrafos, que podem consultar no site da loja

http://www.bdmania.pt

October 13, 2004

Mr Kolins, Mr Kolins



Em Novembro volta uma série clássica da Marvel, o Marvel Team-Up.
Este é o tipico titulo de entretenimento em que se juntam personagens conhecidas, enfrentam-se um ao outro no inicio, e depois juntos combatem um ou vários inimigos comuns. Em termos de história ninguém está à espera de alterações profundas em qualquer uma das personagens. Nem isso, nem grandes arcos, subplots, ou o que quer que seja.

Serão concerteza histórias feitas para entreter os leitores, e que por essa razão têm de os cativar pela outra metade de todos os comics: a arte.

Quando soube que quem ia desenhar esta série era o Scott Kolins, perdi o interesse. Gostei do trabalho dele em Flash, mas na Marvel parece que não há desenhos, só esboços. Veja-se o que ele fez em Avengers, por exemplo....

Mas as imagens que vi na net estão a fazer com que mude de opinião. Kolins parece ter voltado aos excelentes backgrounds que eram caracteristica do seu trabalho em Flash. A arte final também ajuda a definir mais o traço. Enfim, está muito melhor.

Mais imagens em
http://www.comicbookresources.com/news/newsitem.cgi?id=4288

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Passaporte

October 12, 2004

LerComics - um novo capítulo

Começa aqui um novo capítulo da LerComics, desta vez em formato Blog.

Nos dias que correm, está na moda ter Blogs, e como todos sabem eu sou uma pessoa que dá muita importância às modas, logo ... :)

Mas brincadeiras à parte, o facto é que o antigo formato da LerComics, o de mailing list, deixou de fazer sentido há vários meses atrás, uma vez que poucas ou nenhumas mensagens eram trocadas entre os membros da lista. As mensagens eram invariavelmente monólogos sobre este ou aquele titulo que alguém lera, e uma ou outra notícia que eu insistia em mandar para as mailboxes dos membros da lista. Ora conteúdos desses, ficam bem é num Blog.

Eu devia ter mais juízo, e deixar de me meter nestas aventuras na Internet. Mas infelizmente é mais forte do que eu, e mesmo que seja para o boneco, não consigo parar de falar de Comics. Como não posso estar sempre a chatear as mesmas pessoas nas lojas da especialidade, resta-me usar o poço sem fundo que é a Internet para comentar, criticar, anunciar, noticiar, apontar tudo e mais uma coisa que diga respeito a estas pequenas obras de 22 páginas - os Comics.


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Passaporte