October 24, 2004

Terrores Nocturnos.



NIGHTCRAWLER #1
Escrito por Roberto Aguirre-Sacasa
Desenhado por Darick Robertson
Editado pela Marvel

Tal como os Beatles, aqui há atrasado, dá toda a sensação que os X-Men se separaram e todos resolveram seguir os seus projectos a solo. Na verdade, estas personagens não foram ví­timas de maquiavélicas tricas yoko-onescas, mas sim de filosofias editoriais bem mais óbvias. Sacrificando todas as leis de continuidade e de coesão, as populares personagens dos X-Men têm-se desdobrado ultimamente em séries e mini-séries a solo, praticando a omnipresença com evidente desdém por aqueles a quem a boa e velha "suspension of disbelief" já não chega para explicar tudo. Nightcrawler não escapou à enxurrada e aparece agora o número de estreia de uma série que se exige que seja longa e de boa qualidade. Digo eu, já que se trata da minha personagem favorita do universo Marvel, e choro se as coisas não estão exactamente como eu gosto.

Como equipa criativa, temos o contributo no argumento do dramaturgo tornado profissional de comics Roberto Aguirre-Sacasa. É o meu primeiro contacto com o trabalho dele, e a primeira impressão não é das melhores, infelizmente. Tendo em conta que este é o primeiro número da série, fundamental para agarrar o público, seria de esperar uma história mais interessante. Por outro lado, tendo também em conta ser este o número um de Nightcrawler, poderá ser injusto tomá-lo pelo todo. Para já, poder-se-á dizer que existe uma imensa margem de progressão, e esperar que o argumento a cumpra nos números seguintes.

Uma tragédia aconteceu numa ala de psiquiatria infantil num hospital de Nova Iorque, onde uma quantidade estúpida de crianças especiais aparece morta numa enfermaria sob circunstâncias misteriosas. O corriqueiro, nestas situações. A única testemunha é Seth, a criança que foi a única sobrevivente do que quer que tenha acontecido naquela enfermaria quando ninguém estava a olhar. Seth é também o principal suspeito. Na hipótese de ele ser um mutante, Kurt Wagner, o mutante de serviço, é enviado para averiguar o que se passou.

No que Aguirre-Sacasa parece falhar é na previsibilidade, pelo menos aparente, desta história, com alguns lugares-comuns que estão escritos de uma forma rotineira, sem surpresas quer em termos de enredo, quer no que toca a personagens. Estas aparecem aqui apenas como elementos meramente funcionais e estereotipados, como o director de serviço com a atitude suspeita, a enfermeira de saia curta, o vigilante que não está a dizer tudo o que sabe, e a criança autista com a atitude renitente em relação à comunicação verbal. Além disso, embora o Nightcrawler seja uma personagem dada a ocasionais momentos reflectivos, não é de todo uma personagem sorumbática, e ela aqui parece-me demasiado deslocada.

No capítulo da arte, nada a apontar. Darick Robertson transfere-se da série "Wolverine" para esta, no que muitos poderiam ver como uma despromoção, mas eu até acho que o estilo suave dele funcionará melhor com o Nightcrawler. Há uma ênfase nos ambientes escuros, para tirar partido da capacidade de camuflagem do herói, e gosto sobretudo da forma simples e realista com que Robertson o desenha em quase todos os momentos, expressando bem a sua vulnerabilidade.

Como escrevi acima, o problema em "Nightcrawler #1" não é da arte, e talvez não exista nenhum problema, a longo prazo. Roberto Aguirre-Sacasa tem sido elogiado pelo trabalho que faz em "4", a série dos Fantastic Four que sai pela Marvel Knights e que eu ainda não tive oportunidade de ler. Fico na esperança que "Nightcrawler" ganhe em interesse e em movimento, e que os diálogos apareçam mais fluidos daqui em diante, e que a série se torne no que a personagem merece que seja.

QUOTE "Do you believe in evil, Mr. Wagner? True evil?"

1 comment:

Passaporte said...

Oi Nuno. Estou a gostar bastante dos reviews que tens colocado no blog. O da Black Widow fez com que tivesse vontade de ler o comic, e este do Nightcrawler também. Ou melhor, de o reler, uma vez que tal como tu não pude deixar de pegar no titulo a solo de um dos meus personagens preferidos.

A arte ser de Darick Robertson foi um ponto a favor para pegar no titulo, e o argumento ser do Sacasa ajudava, uma vez que estou a gostar bastante do seu trabalho em "4".

Tal como tu, também achei o argumento a pior metade deste novo titulo, mas tenho esperança de que venha a melhorar. Afinal é o tipo que escreve 4, e esse titulo é mesmo bom.