November 8, 2004

A Crise dos Crossovers - parte I

Não sei bem porquê (provavelmente porque este ano tem sido marcado por IDENTITY CRISIS e por AVENGERS DISASSEMBLED), estes últimos tempos tenho dado por mim a pensar nos crossovers. Uma das inúmeras artimanhas utilizadas pela Marvel, DC e outras editoras para nos levarem a gastar mais dinheiro do que é habitual, são uma táctica que penso que surgiu nos anos 80, com SECRET WARS (Marvel). O sucesso dos primeiros crossovers levou a que outros surgissem e a que fossem exageradamente populares durante os anos 90.

Ultimamente, no entanto, este tipo de iniciativa tem estado a cair um pouco em desuso. Desde que começou o reinado Quesada, a Marvel tem recorrido muito pouco aos crossovers; a DC não se tem controlado tanto mas, ainda assim, tem diminuído o ritmo com que os põe cá para fora. A verdade é que estamos, felizmente, já bem longe da altura em que parecia que todos os anos haviam vários crossover por editora.

Como disse, tenho pensado um pouco no tema e achei que seria interessante examiná-lo à lupa. Tentar ver quais são os elementos mais comuns dos crossovers, as razões das editoras em os fazer e os benefícios que poderão trazer aos leitores. Comecemos pela sua receita. Após puxar bastante pela cabeça, cheguei à conclusão de que para se poder criar um crossover necessitamos então do seguinte:

- várias séries mensais, pertencentes a um universo comum (ou muito ocasionalmente, pertencentes a universos distintos)

- um título para o crossover, um nome de impacto que evoque conflito e confrontos; utilizar a palavra 'war' fica (quase) sempre bem

- um logotipo chamativo, para espetar na capa de todos os comics afectados (muito ou pouco) pelo crossover, de modo a serem facilmente identificáveis

- um aviso, sempre sério mas raramente verdadeiro, que depois do crossover acabar, "nada será como dantes"

- crossovers de classe A têm direito a uma maxi-série (sete ou mais números); crossovers de classe B têm direito direito a uma mini-série (três a seis números); crossovers de classe C têm direito a um comic especial para iniciar o evento e outro para o concluir; crossovers de classe D já têm sorte em existir, não podem exigir muito mais

- uma ameaça mega-poderosa; tanto poderá ser um vilão como uma guerra, conspiração, evento cósmico ou desastre natural; o importante mesmo é que seja necessária a intervenção de bastantes super-heróis para resolver a situação

- a ameaça em questão deverá ter inúmeras ramificações, que forneçam aos editores e escritores o motivo (ou deverei dizer "a desculpa"?) para envolver as diversas séries mensais no crossover

- um mistério que obrigue a alguma investigação pelos heróis, para provocar especulação entre os leitores e ajudar a que se fale do crossover [ingrediente não obrigatório]

- vários desentendimentos e confrontos entre heróis, muito apreciados pelos leitores que gostam de se interrogar "E se o herói X lutasse contra o herói Y?" [ingrediente não obrigatório]

- uma ou mais mortes; para maior dramatismo, o super-herói que vai desta para melhor dever-se-á ter sacrificado por uma ou mais pessoas, pelo planeta Terra ou (em crossovers de classe A) pelo próprio universo

- o surgimento de novos super-heróis; estes poderão ter direito a uma série mensal quando terminar o crossover [ingrediente não obrigatório]


Penso que é tudo, não me parece que tenha esquecido alguma coisa. Vou a seguir tentar ver o que têm os crossovers de bom e o que têm de mau...

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