June 30, 2005

Caído


Vem aí FELL, uma nova série mensal da Image.

FELL é a história de Richard Fell, um detective enviado para a esquadra de Snowtown, a pior zona da cidade, onde existem apenas 3 polícias e meio (um deles não tem pernas) para manter a ordem.


O comic será escrito por Warren Ellis, o reputadíssimo criador de TRANSMETROPOLITAN, AUTHORITY, PLANETARY e GLOBAL FREQUENCY. Os desenhos ficarão a cargo de Ben Templesmith, o artista de 30 DAYS OF NIGHT, SINGULARITY 7 e CAL MACDONALD: CRIMINAL MACABRE.

Particularidades da série: cada número irá conter uma história completa, estilo série televisiva; terá apenas 16 páginas de história (mas a cores e pintada no estilo habitual do Templesmith); terá adicionalmente algumas páginas com textos, sketches, talvez secção de cartas/mails e o que mais lá couber; o preço será a módica quantia de $1.99 (menos um dólar do que o valor mais habitual).


A arte do Templesmith na preview está bem boa e tenho confiança no Ellis para transformar o ponto de partida meio-cliché em algo fresco. Vamos a ver se pega - menos preço e menos páginas de história mas uma história completa mais sketches e textos (estilo bónus de DVD). Eu gosto da idéia e vou aderir.

June 27, 2005

Os 7 Soldados Magníficos


Um dos (inúmeros) eventos no mundo dos comics deste ano é 7 SOLDIERS OF VICTORY. Para quem não sabe, é uma semi-saga composta por várias mini-séries e dois one-shots de abertura e fecho da história. Diz o argumentista Grant Morrison (e têem confirmado os comentários online) que se pode comprar qualquer uma das mini-séries (dedicadas aos personagens Frankenstein, Shining Knight, Klarion the Witch Boy, Mister Miracle, Bulleteer, Zatanna e The Guardian) isoladas com a garantia de se estar a ler uma história com princípio, meio e fim.

Tinha decidido já há algum tempo aguentar-me e esperar pelo eventuais trade-paperbacks que irão surgir a compilar 7 SOLDIERS OF VICTORY. Esta sexta-feira, no entanto, num gesto impulsivo, comprei 7 SOLDIERS OF VICTORY #0, o pontapé de saída para tudo, que já está à venda há algum tempo...

Citando um conhecido anúncio televisivo, "Grande mega!".


7 SOLDIERS OF VICTORY #0 é parte western, parte ficção-científica, parte desconstrução de super-heróis e parte fantasia. Pega em 6 super-heróis classe Z e dá-lhes a aventura da vida deles. 6 novas versões de super-heróis que eu (e, provavelmente, o resto das pessoas) nunca tinha visto, mas com quem imediatamente simpatizei, por uma razão ou outra. A arte, de J.H. Williams III, é excelente - cheia de paineis imaginativos, texturas e pormenor. As cores fortes, de Dave Stewart, também merecem destaque, pois contribuem bastante para a força do resultado final.

Resumindo, 7 SOLDIERS OF VICTORY #0 é um comic cheio de energia e ideias. Depois de ler este número 0, não sei se conseguirei suportar a longa espera até ter toda a saga no formato trade-paperback.

June 23, 2005

Batman Begins ... or not!

Antes de mais nada, quero que saibam que sou, sempre fui e serei um grande fã do Batman, o Cavaleiro das Trevas. É sem dúvida a minha personagem preferida - e isso que sempre fui mais virado para a Marvel que para a DC - e estava convencido que este novo filme do Batman iria "limpar a cara" do herói na grande tela.

sadbat

Estou convencido que a critica vai adorar o filme, tendo em conta o excelente leque de actores, mas fui ver o filme na ante-estreia, ao Optimus Open Air, e a verdade é que quando o filme terminou fiquei muito desapontado. Este foi, tirando o circo do Batman & Robin, o filme onde o Batman me pareceu pior retratado e mais longe daquilo que a personagem é.

Tudo bem, voltaram a dar-lhe um aspecto mais sombrio, trazendo de volta a aura de medo que o Batman inspira nos criminosos, e que acaba por ser a sua maior arma na luta contra o crime. Mas ao mesmo tempo tiraram-lhe motivação, e acabam por desvirtuar na minha opinião a sua força interior, fazendo-o parecer um rebelde sem causa. E muitos detalhes da história da personagem, que fazem dele quem é, foram negligenciados, contrariados ou ignorados.

Em termos visuais, em determinadas cenas parece que em vez de termos o Batman no ecrã temos o Wolverine dos comics (repare-se nos contornos arredondados da máscara), em posições demasiado felinas. Nos primeiros planos da personagem, mais do que uma vez me parecia estar a olhar de frente para o Gene Simmons, no seu papel de Demon da banda Kiss.

No que diz respeito às origens do Batman...Pensava que iriamos ver um Bruce Wayne altamente empenhado e motivado em aprender com os melhores mestres do mundo técnicas de combate, psicologia criminal, ou mesmo noções de engenharia e mecânica que o permitissem desenvolver "those wonderful toys". Ao invés disso, o treino que o vemos ter surge quase como que por acaso, em algo que quase parecia um recrutamento para uma organização de ninjas. O melhor detective do mundo? Aqui não. E quanto aos gadgets...bem...todos lhe acabam por cair nas mãos, graças a Lucius Fox, naquilo que foi um desperdicio de um bom actor (Morgan Freeman). A sensação que deu foi que estava a ver um filme do 007, mas passado em Gotham City e com o James Bond vestido de homem morcego. Por falar em Gotham, perdeu-se a fantástica cidade gótica dos filmes anteriores de Batman. Aqui vemos uma metropole de arranha-ceus, mais apropriada a' Metropolis do Superman.

Jim Gordon, interpretado pelo brilhante Gary Oldman, foi mais uma decepção. Fisicamente está tal e qual, mas é talvez a personagem mais insipida e vazia do filme. Onde estão as dificuldades de relacionamento que marcaram os primeiros encontros de Batman com esta personagem, e que depois de superadas serviram para criar um elo entre policia e vigilante?

Katie Holmes aparece como o escape romantico do filme. Nada que eu não estivesse à espera, mas que mais uma vez acaba por dar uma machadada naquilo que deveria ser a motivação de inicio de carreira do Cavaleiro das Trevas.

E depois temos os vilões. Ra's Al Ghul foi estragado pela necessidade de tornar algo extremamente previsivel em surpreendente. Jonathan Crane fica aquem da personagem traumática dos comics, e acaba por ser um Scarecrow demasiado confiante, sem a dupla personalidade que o caracteriza também.

Michael Caine, Rutger Hauer, Liam Neeson...enfim, a lista de nomes sonantes realmente era grande, mas ao contrário de Sin City, onde cada actor conseguiu brilhar na personagem que representou, em Batman Begins os nomes servem o filme, e não o contrário.

June 20, 2005

A Cidade do Pecado

Porque o belo filme está nas salas de cinema e porque a perguiça não me permite escrever mais que isto, aqui fica uma crítica que fiz ao primeiro volume da versão portuguesa de SIN CITY, pela Devir.

"Feio, brigão e não muito inteligente, Marv não está habituado a que as mulheres lhe dêem atenção. Um dia sai-lhe a sorte grande, mas ao acordar da inesperada noite de paixão com Goldie, perfeita e de beleza angelical, encontra-a assassinada. Momentos depois, a policia bate-lhe à porta e, vendo-se apanhado numa armadilha, Marv inicia a busca do culpado da morte da mulher que o fez sentir-se especial. E nada, nem ninguém, se conseguirá opor-lhe.

Quero deixar já clara uma coisa: A CIDADE DO PECADO é uma obra-prima, genial e sem falhas. Inspirada nos policiais de Mickey Spillane, esta obra apresentou, no início dos anos 90, a cidade onde Frank Miller situaria depois outros contos. A CIDADE DO PECADO foi, na altura da sua publicação original, uma reviravolta artística de Miller. Inspirado, entre outras fontes, pela manga japonesa, e mantendo o dinamismo e habilidade narrativa que já lhe eram habituais, o autor norte-americano aproveitou-se do formato preto-e-branco para experimentar ou aprofundar diversas técnicas: utilização de vários painéis de página inteira; sequências "silenciosas" sem diálogo ou texto; monólogos internos do protagonista fora dos painéis; e muitos jogos de luz e sombras. Estas e outras técnicas foram utilizadas com uma eficácia tremenda, aumentando o dramatismo e impacto da narrativa, e ajudando na criação dos ambientes escuros e densos d'A CIDADE DO PECADO.

Com um personagem principal saido de um pulp (publicações baratas, especializadas em policiais e aventura), A CIDADE DO PECADO utiliza vários clichés do género: um inocente incriminado de um crime que não cometeu; uma femme fatale que seduz o protagonista; e corrupção das forças de autoridade. Frank Miller no entanto não se prende demasiado a essas fórmulas, e constroi um mundo próprio que posteriormente foi desenvolvendo noutras obras. Argumentista capaz de escrever momentos intensos com grande facilidade, Miller incute a esta história relativamente simples uma força invulgar. Onde outros escritores produziriam um argumento básico, digno de um qualquer filme do Van Damme, Miller vai bem fundo, e consegue agarrar o leitor pelos colarinhos. Sente-se a raiva e frustração de Marv, a tensão da narrativa e a violência das acções.

A CIDADE DO PECADO é, repito, um obra-prima. Brutal, intensa, suada e fascinante. Que finalmente o público português tenha oportunidade de a conhecer é motivo de festejo. Espero que a Devir tenha sucesso com a sua publicação, de modo a que outras excelentes histórias passados n'A CIDADE DO PECADO possam vez a luz no nosso panorama editorial.
"

(escrito originalmente em Julho de 2003)

Para acabar, duas notas... Primeiro, a Devir tem realmente publicado mais volumes de SIN CITY, que valem bem a pena. Segundo, os últimos volumes de SIN CITY, ainda não publicados em Portugal, são infelizmente de uma qualidade gráfica inferior. O Miller nos últimos anos tem modificado a sua técnica e os resultados não são os melhores. O traço é, parece-me, mais espontâneo, mas tem o infeliz efeito dar às páginas um aspecto desleixado....