June 23, 2005

Batman Begins ... or not!

Antes de mais nada, quero que saibam que sou, sempre fui e serei um grande fã do Batman, o Cavaleiro das Trevas. É sem dúvida a minha personagem preferida - e isso que sempre fui mais virado para a Marvel que para a DC - e estava convencido que este novo filme do Batman iria "limpar a cara" do herói na grande tela.

sadbat

Estou convencido que a critica vai adorar o filme, tendo em conta o excelente leque de actores, mas fui ver o filme na ante-estreia, ao Optimus Open Air, e a verdade é que quando o filme terminou fiquei muito desapontado. Este foi, tirando o circo do Batman & Robin, o filme onde o Batman me pareceu pior retratado e mais longe daquilo que a personagem é.

Tudo bem, voltaram a dar-lhe um aspecto mais sombrio, trazendo de volta a aura de medo que o Batman inspira nos criminosos, e que acaba por ser a sua maior arma na luta contra o crime. Mas ao mesmo tempo tiraram-lhe motivação, e acabam por desvirtuar na minha opinião a sua força interior, fazendo-o parecer um rebelde sem causa. E muitos detalhes da história da personagem, que fazem dele quem é, foram negligenciados, contrariados ou ignorados.

Em termos visuais, em determinadas cenas parece que em vez de termos o Batman no ecrã temos o Wolverine dos comics (repare-se nos contornos arredondados da máscara), em posições demasiado felinas. Nos primeiros planos da personagem, mais do que uma vez me parecia estar a olhar de frente para o Gene Simmons, no seu papel de Demon da banda Kiss.

No que diz respeito às origens do Batman...Pensava que iriamos ver um Bruce Wayne altamente empenhado e motivado em aprender com os melhores mestres do mundo técnicas de combate, psicologia criminal, ou mesmo noções de engenharia e mecânica que o permitissem desenvolver "those wonderful toys". Ao invés disso, o treino que o vemos ter surge quase como que por acaso, em algo que quase parecia um recrutamento para uma organização de ninjas. O melhor detective do mundo? Aqui não. E quanto aos gadgets...bem...todos lhe acabam por cair nas mãos, graças a Lucius Fox, naquilo que foi um desperdicio de um bom actor (Morgan Freeman). A sensação que deu foi que estava a ver um filme do 007, mas passado em Gotham City e com o James Bond vestido de homem morcego. Por falar em Gotham, perdeu-se a fantástica cidade gótica dos filmes anteriores de Batman. Aqui vemos uma metropole de arranha-ceus, mais apropriada a' Metropolis do Superman.

Jim Gordon, interpretado pelo brilhante Gary Oldman, foi mais uma decepção. Fisicamente está tal e qual, mas é talvez a personagem mais insipida e vazia do filme. Onde estão as dificuldades de relacionamento que marcaram os primeiros encontros de Batman com esta personagem, e que depois de superadas serviram para criar um elo entre policia e vigilante?

Katie Holmes aparece como o escape romantico do filme. Nada que eu não estivesse à espera, mas que mais uma vez acaba por dar uma machadada naquilo que deveria ser a motivação de inicio de carreira do Cavaleiro das Trevas.

E depois temos os vilões. Ra's Al Ghul foi estragado pela necessidade de tornar algo extremamente previsivel em surpreendente. Jonathan Crane fica aquem da personagem traumática dos comics, e acaba por ser um Scarecrow demasiado confiante, sem a dupla personalidade que o caracteriza também.

Michael Caine, Rutger Hauer, Liam Neeson...enfim, a lista de nomes sonantes realmente era grande, mas ao contrário de Sin City, onde cada actor conseguiu brilhar na personagem que representou, em Batman Begins os nomes servem o filme, e não o contrário.

2 comments:

Passaporte said...

Demasiado meticuloso? Talvez. Talvez me tenham incomodado determinados detalhes que, para o publico em geral serão apenas pormenores, mas para alguém que conhece as personagens e a história de Batman tornam o filme algo irritante de acompanhar. Mas por outro lado, alguns desses detalhes são algo que dá personalidade à personagem, e vê-los alterados por distracção, ou falta de conhecimento, aborrece um bocado. Ainda ontem estava a ver na VH1 um programa sobre o Making Of do filme. Foi nessa altura que descobri quem era o realizador - Chris Nolan, o realizador de Memento. Mais um retoque para a impermeabilidade do filme a criticas. É que é dificil criticar alguém como Nolan, que nos deu um filmão como Memento. Mas é preciso diferenciar os vários trabalhos de uma pessoa pelo trabalho em si, e não pela pessoa ou obras passadas. Um bom exemplo está tambem ligado ao Batman no cinema, o realizador Joel Schumacher, que tem um filme simplesmente brilhante como Falling Down, e depois trucida as personagens do bat universo em Batman & Robin.

Mas voltando aos detalhes...eu não sou o tipo de pessoa que se preocupa muito com eles, caso não afectem a personagem. Um exemplo recente em filmes de super-heróis é o facto das teias do Spiderman não sairem de lançadores de teia, mas sim dos próprios braços do Parker. Aí está um detalhe bem diferente do material original, mas que não estragou a personagem em nada, a meu ver.

No entanto não é bem isso que acontece neste filme do Batman. Um filme em que o "master Bruce" é substituido por "master Wayne", retirando a cumplicidade paternal que existe entre mordomo e milionário, a amiga de infância de Bruce Wayne funciona como consciência do herói - tipo grilo falante e pinóquio; Morgan Freeman representa um Lucius Fox parecido com o Q do 007; a linguagem corporal do Batman parece a de um gato; etc, etc, etc

Christian Bale dizia no Making Of que neste filme, a personagem principal é Bruce Wayne, e não os vilões, como aconteceu nos filmes anteriores. Pois bem, eu vi muito mais de Bruce e do Batman nos 2 primeiros filmes, realizados pelo Tim Burton (com todos os detalhes diferentes da história nos comics, mas que ainda assim serviram o filme) que neste Batman Begins.

Lucas Lourenço said...

Faço suas as minhas palavras.
Parabéns pelo blog!

Lucas Lourenço